…Morre o Peixe. Lá diz o ditado. E os ditados, como se
sabe, alimentam-se (também) dos vícios e das fraquezas dos Homens.
O problema de apregoar virtudes sem lhes seguir a linha é
que, tarde ou cedo, o dissimulado virtuoso há-de tropeçar, com mais ou menos
estrondo, derramando, irremediavelmente, toda a sua putrefacta pureza.
“Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto
quanto ama a beleza do corpo”. Pobre Confúcio. Vivesse ele agora e ainda
não teria visto ninguém que amasse tanto a virtude quanto ama a sua conta
bancária.
A virtude tem destes defeitos. Como a coerência, estão
destinadas aos imbecis. É mais prudente não as levar demasiado a sério, não vá
dar-se o caso de termos que renunciar a uma magnífica oportunidade de entrarmos
para o rol dos privilegiados por uma qualquer convicção chocha que tivemos que
defender no passado (mesmo que esse passado não esteja muito longe). Foi assim
com a casinha de 600 mil euros de Pablo Iglesias, em Espanha, é assim com o
imóvel em Alfama de Ricardo Robles (será do apelido?). Afinal, a perspectiva de
lucrar, em pouco mais de quatro anos, 4-vírgula-qualquer-coisa milhões de euros
numa transação comercial (legal, legítima e blá, blá, blá, blá…) choca de
frente - e de forma muito violenta e dolorosa, diga-se! - com a indignação
contra a especulação imobiliária. Como não ser sensível a tantos dígitos? O
vereador Ricardo pode continuar a insurgir-se contra a malévola Cristas mais a sua
lei, enquanto o (co-)proprietário Robles evoca as mesmas para mostrar, até,
benevolência na actualização das suas rendas. Assim uma espécie de Heckel
and Jeckel do fantástico mercado imobiliário.
“Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.” Ora, essa! Quem disse?