sexta-feira, 27 de julho de 2018

Pela Boca...

…Morre o Peixe. Lá diz o ditado. E os ditados, como se sabe, alimentam-se (também) dos vícios e das fraquezas dos Homens.

O problema de apregoar virtudes sem lhes seguir a linha é que, tarde ou cedo, o dissimulado virtuoso há-de tropeçar, com mais ou menos estrondo, derramando, irremediavelmente, toda a sua putrefacta pureza.

 “Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo”. Pobre Confúcio. Vivesse ele agora e ainda não teria visto ninguém que amasse tanto a virtude quanto ama a sua conta bancária.

A virtude tem destes defeitos. Como a coerência, estão destinadas aos imbecis. É mais prudente não as levar demasiado a sério, não vá dar-se o caso de termos que renunciar a uma magnífica oportunidade de entrarmos para o rol dos privilegiados por uma qualquer convicção chocha que tivemos que defender no passado (mesmo que esse passado não esteja muito longe). Foi assim com a casinha de 600 mil euros de Pablo Iglesias, em Espanha, é assim com o imóvel em Alfama de Ricardo Robles (será do apelido?). Afinal, a perspectiva de lucrar, em pouco mais de quatro anos, 4-vírgula-qualquer-coisa milhões de euros numa transação comercial (legal, legítima e blá, blá, blá, blá…) choca de frente - e de forma muito violenta e dolorosa, diga-se! - com a indignação contra a especulação imobiliária. Como não ser sensível a tantos dígitos? O vereador Ricardo pode continuar a insurgir-se contra a malévola Cristas mais a sua lei, enquanto o (co-)proprietário Robles evoca as mesmas para mostrar, até, benevolência na actualização das suas rendas. Assim uma espécie de Heckel and Jeckel do fantástico mercado imobiliário.

“Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.” Ora, essa! Quem disse?