quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Ainda no Líbano

 



"Como foi possível passar de um país chamado “a Suíça do Médio Oriente”, modelo de coexistência comunitária, oásis de liberdade, prosperidade e cultura, para o inferno de um Estado falido, usurpado por uma elite corrupta? A explosão do porto de Beirute não foi apenas uma catástrofe. É um corte na História do Líbano. “Beirute nunca mais será a mesma”, escreve um jornalista. “O Líbano que conhecemos está a morrer”, observa um analista. É o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Nassif Hitt, quem declara: “O Líbano está a caminho de se transformar num Estado falido.

O Líbano tem uma geografia feliz na borda do Mediterrâneo, o que faz dele um importante entreposto comercial. Do ponto de vista geopolítico, o quadro é mais ameaçador. Está encravado entre Israel e a Síria. Damasco, a quem está umbilicalmente ligado, vê nele uma extensão do seu território. Israel pretendeu fazer dele um Estado-tampão sob sua influência. Por fim, é um ponto quente da concorrência entre o Irão e a Arábia Saudita. Sofreu as consequências do conflito palestiniano, teve uma longa guerra civil (1975-1990) que desembocou na ocupação síria e na ocupação do Sul do país por Israel. De facto, goza de uma soberania incompleta.

Terceiro elemento, o que mais condiciona a vida política do Líbano: o comunitarismo político. Tem 18 confissões religiosas e três comunidades dominantes – cristãos maronitas e muçulmanos, sunitas e xiitas. E uma forte comunidade drusa. Alberga ainda 300 mil refugiados palestinianos (confinados em campos) e os novos refugiados da guerra síria. O problema não é o mosaico religioso: é a organização da vida política em termos confessionais, o que se acentuou após a guerra civil. Desta vez, os libaneses não podem atribuir a crise a intervenções estrangeiras: ela espelha o apodrecimento do sistema político."


Continua, lá, no artigo publicado.