quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Miguel Torga



Há a inevitável polémica (como não?) e a estética. Sobre a primeira, não tenho nada a dizer. Há muito, muito tempo que vivemos sequestrados e encerrados na fábula d' O Velho, o Rapaz e o Burro: se vamos a pé, com o burro ao lado, somos patetas; se é o velho quem monta o burro, pobre do rapaz que vai a pé; se monta o rapaz, olha a vergonha, o rapaz tão forte e o velho a pé; se montam os dois, coitado do burro. Sobre polémicas, vitória, vitória, acabou-se a estória.

Sobre a segunda. A estética. Pessoalmente, não gosto. Fim de conversa. Em dia de aniversário de Torga - o também médico Adolfo Correia da Rocha - prefiro os versos e a prosa. Lembro-me do que gostei de ler os "Novos Contos da Montanha", na escola, uma edição velhinha, de capa mole, em pálido beje, e letras em azul bebé, o primeiro livro que lhe conheci e que ainda guardo. Os versos chegaram mais tarde.


"Recomeça...

Se puderes,

Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres, 

Nesse caminho duro

Do futuro,

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.


E, nunca saciado,

Vai colhendo

Ilusões sucessivas no pomar

E vendo

Acordado,

O logro da aventura.

És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura

Onde, com lucidez, te reconheças."

Sísifo