Há a inevitável polémica (como não?) e a estética. Sobre a primeira, não tenho nada a dizer. Há muito, muito tempo que vivemos sequestrados e encerrados na fábula d' O Velho, o Rapaz e o Burro: se vamos a pé, com o burro ao lado, somos patetas; se é o velho quem monta o burro, pobre do rapaz que vai a pé; se monta o rapaz, olha a vergonha, o rapaz tão forte e o velho a pé; se montam os dois, coitado do burro. Sobre polémicas, vitória, vitória, acabou-se a estória.
Sobre a segunda. A estética. Pessoalmente, não gosto. Fim de conversa. Em dia de aniversário de Torga - o também médico Adolfo Correia da Rocha - prefiro os versos e a prosa. Lembro-me do que gostei de ler os "Novos Contos da Montanha", na escola, uma edição velhinha, de capa mole, em pálido beje, e letras em azul bebé, o primeiro livro que lhe conheci e que ainda guardo. Os versos chegaram mais tarde.
"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Sísifo