“Há uma conspiração de extrema-direita
a nível internacional, muitíssimo bem pensada, bem planeada e que vem sendo
executada passo a passo”, assim
começava no início deste mês, Miguel Sousa Tavares, uma das suas crónicas semanais no Expresso. E, a seguir,
referia que Steve Bannon era, não o único, mas o rosto mais visível dessa
insidiosa construção.
Na altura, perguntei-me se Miguel Sousa Tavares não
estaria a exagerar, um pouco ao seu estilo mais ou menos cáustico e, nem
sempre, tão isento e impoluto quanto se gostaria, mas, todos temos os nossos
pecados e quem não gosta, já sabe o que há-de fazer, que proliferam alternativas,
inclusive às alternativas. Adiante. Seguramente, não sou só eu que reparo, mas,
alguns cronistas da nossa prolífera e dotada praça mediática entretêm-se,
muitas vezes, a mandar recados aos “inimigos” de profissão e de ideologia. Pode
ser uma outra crónica, um desabafo num programa de televisão, uma piada
radiofónica, enfim, na forma e no meio que estiver mais à mão, ou à boca, e,
nisso, não há mal algum. Nem todos gostamos de falar sozinhos, como os malucos,
e há dinâmicas bem interessantes. O caso é que, a teoria da conspiração de
Miguel Sousa Tavares mereceu uma outra crónica, desta vez, no Observador de um outro
autor que, na maioria das vezes, não leio, por nenhuma razão em especial.
Acabei por ler por me sentir identificada com a dúvida: Miguel Sousa Tavares
tem razão em levantar a suspeita da existência de uma gigantesca e perigosa
conspiração, meticulosamente, ardilosamente pensada para usurpar a liberdade e
a democracia, ou o senhor é apenas uma vítima da intensidade das
suas próprias crenças políticas de proporções cósmicas?
As duas crónicas vão muito para além desta discussão, eu
continuo cheia de dúvidas, mas, lembrei-me de ambas ao ler este artigo e de cujo teor o DN dá conta aqui.
Não sei se existe ou não uma tentativa concertada para
elevar a extrema-direita ao poder, mas, há dias, também li que um em cada
quatro europeus admite votar em partidos populistas, cujo número (também li)
mais do que triplicou nos últimos 20 anos, e que, "Portugal, Estónia e
Letónia são os únicos países da Europa que não elegeram nenhum populista",
ainda.
Também há dias, num jantar com amigos, falávamos dos
motivos (alguns deles) que levaram muitos a escolher um presidente como Jair
Bolsonaro. Entre outras coisas, surgiu, inevitavelmente, a questão da
segurança. “Sabes o que é estares permanentemente atenta à hora de chegada do
teu filho da escola? Esperar que ele te ligue a dizer que está tudo bem?”,
perguntava-se. Não, não sabemos. Mas, nos EUA, onde o acesso às armas é o que
é, também podemos ter o azar, eufemisticamente falando para não endoidecer, de
os nossos filhos estarem no lugar errado à hora errada. “Mas, nos EUA, não
grassa a impunidade dos criminosos, como no Brasil”, é verdade. “Precisamos de
alguém como ele”, para pôr ordem na casa; “se não cumprir o que
diz, corremos com ele também!”, o que parece uma estratégia
inteligente e, tão ou mais importante, infalível. Não fosse o caso de a
História já ter demonstrado que correr com eles pode não ser
tão fácil e limpo, como parecia e se esperava. É possível que Donald Trump
volte a ganhar as eleições presidenciais em 2020. E se
não ganhar?