quinta-feira, 15 de novembro de 2018

E o que é que vestia?

Há mulheres que não aprendem. Ou se põem a jeito ou põem cuecas de renda. Ou usam fio dental ou não apertam as pernas com firmeza. Ou dançam de forma sensual ou saem sozinhas à noite. Ignoram que os homens são predadores implacáveis, cheios do recato que lhes falta a elas, lobos com peles de cordeiro, sempre à espreita, à espera do convite fortuito, mas eloquente e irrecusável. O que elas querem, sabem eles. E sabem todos, sem excepção. Os que não sabem, não são bem homens. A ocasião faz o ladrão e as mulheres impudicas fazem os violadores.

“Têm de olhar para a maneira como ela estava vestida. Usava um fio dental com a frente em renda”, advertiu a competente advogada, no tribunal, numa tanga sem renda. Que tamanho ultraje! Como é possível, tão pouca vergonha? Há mulheres que são umas galdérias, de facto. Galdérias e ignorantes, pois, desconhecem que há homens, parece que todos, que não resistem a uma provocadora cueca de renda e fio dental. Que extraordinário descanso saber que há outras mulheres que nos alertam para o perigo que o nosso traje, o interior também, representa para os incautos. Só as mulheres recatadas – e parece que também as feias – nunca são assediadas ou violadas. Mas, as feias não contam, porque não merecem. Basta ler jornais. Ou perguntem aos homens, esses seres acéfalos, que não podem ver uma mulher de saias ou de rendas, porque a irracionalidade primária nunca os abandonou, coitados, apesar de séculos de evolução. As mulheres sérias e compostas não provocam sensações pecaminosas. Já as do tipo leviano e atiradiço são verdadeiros shots de excitação e adrenalina; um perigo para o fraco homem comum. As desse tipo deviam ficar em casa, trancadas nas torres mais altas e inacessíveis, com um espelho mágico a quem, por descanso, perguntar, espelho meu espelho meu, já estou em modo camafeu?, e, então, gozar da segurança e condições necessárias para preservar a honra.

Vítima que é vítima não provoca, não instiga, não socializa indecentemente. Vítima que é vítima chora e grita, arranha e defende-se. Vítima que é vítima comporta-se da forma correcta e, sobretudo, não vai em tangas – e, logo, de renda – a lado nenhum.