Há mulheres que não aprendem. Ou se põem a jeito ou
põem cuecas de renda. Ou usam fio dental ou não apertam as pernas com firmeza.
Ou dançam de forma sensual ou saem sozinhas à noite. Ignoram que os homens são
predadores implacáveis, cheios do recato que lhes falta a elas, lobos com peles
de cordeiro, sempre à espreita, à espera do convite fortuito, mas eloquente e
irrecusável. O que elas querem, sabem eles. E sabem todos, sem excepção. Os que
não sabem, não são bem homens. A ocasião faz o ladrão e as mulheres impudicas
fazem os violadores.
“Têm de olhar para a maneira como ela
estava vestida. Usava um fio dental com a frente em renda”, advertiu a competente advogada, no tribunal, numa tanga
sem renda. Que tamanho ultraje! Como é possível, tão pouca vergonha? Há
mulheres que são umas galdérias, de facto. Galdérias e ignorantes, pois,
desconhecem que há homens, parece que todos, que não resistem a uma provocadora
cueca de renda e fio dental. Que extraordinário descanso saber que há outras
mulheres que nos alertam para o perigo que o nosso traje, o interior também,
representa para os incautos. Só as mulheres recatadas – e parece que também as
feias – nunca são assediadas ou violadas. Mas, as feias não contam, porque não
merecem. Basta ler jornais. Ou perguntem aos homens, esses seres acéfalos, que
não podem ver uma mulher de saias ou de rendas, porque a irracionalidade
primária nunca os abandonou, coitados, apesar de séculos de evolução. As
mulheres sérias e compostas não provocam sensações pecaminosas. Já as do tipo
leviano e atiradiço são verdadeiros shots de excitação e adrenalina; um perigo
para o fraco homem comum. As desse tipo deviam ficar em casa, trancadas nas
torres mais altas e inacessíveis, com um espelho mágico a quem, por descanso,
perguntar, espelho meu espelho meu, já estou em modo camafeu?, e,
então, gozar da segurança e condições necessárias para preservar a honra.
Vítima que é vítima não provoca, não instiga, não
socializa indecentemente. Vítima que é vítima chora e grita, arranha e defende-se.
Vítima que é vítima comporta-se da forma correcta e, sobretudo, não vai em
tangas – e, logo, de renda – a lado nenhum.