Em tempos não muito distantes, palavras levava-as o vento
e dos fracos não rezava a história. Mas, entretanto, chegaram as redes sociais,
as palavras permaneceram contra todos os ventos e os fracos, deslumbrados,
ganharam espaço e tempo de antena. De indignação em indignação, de pirraça em
pirraça, de insulto em insulto, tão mais eloquente quanto mais cobardemente
anónimo, ergueu-se, ali, um campo fértil para os frustrados, para os
arruaceiros, para os populistas. E, evidentemente, para criminosos das mais
variadas e arrepiantes dimensões, mas isso seria assunto para um outro tema e
um outro texto. Um outro dia.
É evidente que as redes sociais têm coisas fantásticas,
apesar de ainda haver gente, como eu, que dispensa a maioria. A evolução
tecnológica, também nesta área, é indiscutível e não pode ser ignorada nem
menorizada. Pelo contrário. No entanto, o foco do problema não está nas redes
socias, como é óbvio. Está nos seus utilizadores. Basta ver as páginas que
recebem mais likes, mais visualizações e possuem mais seguidores.
Desfiar um rosário de acontecimentos da nossa vida privada- quanto mais picante
e/ou atormentada, melhor- rende muito mais do que falar de temas mais sérios e,
claro, muito mais entediantes e sem glamour. E, se há utilizadores
mais inofensivos, que se preocupam apenas com as fofocas básicas do dia-a-dia,
também há os que preferem intrigas, muito sangue, menos suor e mais lágrimas. É
neste meio que pupulam os imberbes que usam as redes sociais e as caixas de
comentários de algumas publicações online para vomitar ódios e aliviar,
violentamente, o desencantamento emergente dos seus fracassos.
Se, nas redes sociais, é inevitável o tempo de antena que
se dá aos néscios, venham de onde vierem, não deixa de me espantar a
importância que a imprensa e a comunicação social lhes dedicam com quase
idêntico fervor. Os ignorantes são outros, o motivo será o mesmo. Em vez
dos likes são os shares e os ratings e
nem a imprensa dita de referência lhes escapa.
De share em share, subindo o
tom e baixando o nível, jornalistas e televisões- por arrasto, o país em peso-
vive o fenómeno Bruno de Carvalho com a avidez dos abutres ao redor da carniça.
Incluo, infelizmente (porque vejo regularmente), a SIC Notícias e as suas horas
recentes e intermináveis de comentários e análises ad nauseam. Não,
os jornalistas e as televisões não criaram o Bruno de Carvalho (ou criaram?),
esse, outrora, salvador do Sporting contra tudo e todos. E, sim, os jornalistas
e as televisões têm a obrigação e o dever de informar e não devem voltar as
costas às notícias do dia. Mas, e que tal voltar as costas a quem os insulta e
os destrata dando-se, até, ao luxo de os manter mais de uma hora e meia à
espera de uma conferência de imprensa que, mais não foi, do que um monólogo
enfadonho, entre a vitimização e a ameaça, a “coragem” saloia e o narcisismo
imbecil? O show dos jornais debaixo do braço, com especial destaque para a
“morte à nascença dos Brunos de Carvalho” é da mais absurda demagogia. Só, de
facto, seres muito pouco inteligentes, profundamente demagogos ou
perturbadoramente alienados (Bruno de Carvalho que escolha, é capaz de encaixar
em todos) é que poderiam ver naquela frase um desejo literal da morte física de
alguém. Nem é preciso ler integralmente o texto de Miguel Sousa Tavares. Basta
o título da crónica. Para quem se queixa da descontextualização do seu “foi
chato”, é de se lhe tirar o chapéu!
Tal como usar a família, principalmente, as filhas
menores para o eterno carpir do seu omnipresente processo de vitimização.
Só mais coisa continua a espantar-me. Como é que gente
como o reputado psiquiatra Daniel Sampaio, o médico-cirurgião Eduardo Barroso e
muitas outras personalidades que a maioria de nós tem por sérias e
inteligentes, só agora se aperceberam do calibre deste senhor. É um pouco ao
estilo do “caso” Sócrates. Enquanto é útil, ninguém vê. Afinal, cego, não é só
o amor.
P.S. Tão ou mais importante do que saber perder, é saber ganhar. Não sei se o Desportivo das Aves foi ou não foi um justo vencedor da Taça de Portugal. Não percebo nada de futebol e sou portista mais por, desconfio, questões genéticas do que por qualquer outra coisa. No entanto, por muita razão que tenha o treinador do Aves (e eu acho que tem alguma) e por enorme que seja o feito do seu clube, José Mota poderia ter tentado ser ainda maior. Mas compreende-se.