quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Papa Francisco, o (fantástico) herege!

De há uns anos a esta parte, vivo sem crenças religiosas, de espécie nenhuma. Por nada de especial, só porque sim. E, talvez, porque conheço ateus e agnósticos que têm mais honra, humildade, respeito pelo próximo, etc, etc, etc, num dedo mindinho do que muitos católicos-cristãos e por aí fora, em toda a sua devota vidinha repleta de grandes e pequenos pecados. Até vivo com um, há vários anos. Ateu, quero dizer.

Adiante. Andava eu tão tranquila na minha vida descrente de sobrenaturais endeusados e aparece-me o Francisco, esse Papa “herege”, na boca de alguns teólogos conservadores. E o que fez o Papa Francisco para merecer tal cognome, de homens de Deus, como ele (como ele?)? Parece que escreveu um texto onde manifesta abertura aos católicos divorciados que voltaram a casar, pasme-se! E autoriza os padres a absolverem as mulheres que tenham feito um aborto. E admite a possibilidade de ordenação de homens casados.

Bom, na verdade, os ditos teólogos não chamaram o Papa Francisco de herege. Acusaram-no, apenas, de “espalhar a heresia”. Não é bem a mesma coisa. Todos sabemos que um herege é, assim, uma pessoa contrária aos dogmas de determinada religião e, como tal, que não pratica os seus deveres religiosos. E, também todos sabemos, não há teólogo, cardeal, bispo ou padre que não viva de acordo com os ensinamentos da Igreja Católica ou que deixe, uma vez que seja, de cumprir com todas as suas obrigações e deveres, principalmente, os da castidade, da humildade e da pobreza. Não é? Pois, bem me parecia.

Por isso, compreendo a indignação destes castos representantes da fé católica. Onde já se viu, um Papa que quer abrir as portas da “sua” Igreja aos divorciados, aos homossexuais, aos mais pobres de entre os mais pobres, enfim, a toda essa gente nada “católica”.

O Papa Francisco, com a sua simplicidade e inteligência desconcertantes, e apaixonantes, e hereges!, já veio dizer que ouve muitos comentários “respeitáveis, porque são ditos pelos filhos de Deus, mas errados”. O Papa Francisco foi mais longe e parece que também disse que, o tal texto, para ser entendido, deve ser lido “de cima para baixo”, “começando no primeiro capítulo, continuando para o segundo e assim por diante, reflectindo sempre”. E, com total desplante, parece que ainda acrescentou que a teologia e a filosofia não devem ser “reflexões laboratoriais”.

Eu, que não percebo nada disto, mas tenho opinião sobre tudo, acho que o Papa Francisco terá muitos defeitos, mas há muito tempo que um Papa não me tomava um segundo, sequer, do também muito meu precioso tempo. Como há muito tempo que não ouvia falar de um Papa que tivesse abdicado de tantos “direitos” e mordomias para estar mais perto daqueles que ainda creem na Igreja Católica e que dela mais parecem precisar.

De modo que, continuo a não acreditar muito na Igreja, católica ou não, mas acredito muito nas qualidades humanas deste Papa. É perfeito? Não. Mas alguém é?

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O dia depois de amanhã...

Espanha prepara-se para produzir um mártir na guerra (não sei se com aspas ou sem aspas…) com a Catalunha. Em pleno século XXI, numa democracia europeia de um país desenvolvido, pondera-se gerar um preso político e pretende-se, com isso, esmagar uma vontade que, legítima ou não, grita cada vez mais alto e não parece querer dar tréguas.

Na Alemanha, pela primeira vez depois da segunda guerra mundial, abriu-se a porta a um partido cujo líder (um deles, pelo menos) apela aos alemães para  que “reclamem o seu passado”, enquanto afirma que uma ministra de outro partido deveria ser recambiada para a Anatólia… estendeu-se o tapete vermelho aos representantes do AfD, esse partido (que dizem ser) de extrema-direita, mas que não se identifica como xenófobo, antes se considera uma “alternativa”, essa palavra tão de moda que já não sei bem o que significa.

Entretanto, Kim Jong-Un e Donald Trump continuam a trocar mimos e a brincar aos soldadinhos de chumbo. O primeiro acusa o segundo de declarar guerra à Coreia do Norte e ameaça abater bombardeiros norte-americanos mesmo que em espaço aéreo internacional. O segundo (essa alma que dispara tweets à velocidade da luz, enquanto inventa atentados terroristas na Suécia, confunde a Namíbia com a Nâmbia e evoca a mulher “ausente” que está mesmo ali ao seu lado…) responde ao “homenzinho do foguete” informando-o que “não estarão por aí por muito mais tempo”, um alívio, portanto!

Por cá, as coisas estão bem mais tranquilas. Parece que só temos um candidato racista e xenófobo, a quem (quase) todos os comentadores e cronistas dizem que não se deve dar palco, mas que falam dele todos os dias.

Assim que, nada de novo. É como dizem, tudo está bem quando acaba bem. Oh!, espera…


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Somos Prisioneiros e Temos Medo

As carrinhas dos carabinieri alinhavam com os impressionantes blindados militares. As metralhadoras suspensas dos ombros apontavam para o chão, mas os homens agarravam-nas firmemente em posição pronta a levantar e disparar. O aparato militar, muito maior que o policial, era brutal. Nas ruas, nas estações de metro, à porta de qualquer edifício governamental ou de interesse turístico, o que, naquela metrópole, significava, literalmente, em cada canto e recanto. Apenas aquela espécie de pompom que compunha o gorro vermelho dos militares fardados a rigor conferia alguma suavidade à hostilidade do cenário. Um adereço quase infantil num conjunto adverso, agressivo, oponente. Omnipresente.

A sensação de estarem em guerra atingiu-os mais violentamente do que nunca. Uma guerra silenciosa, na maioria das vezes. Uma guerra que, para eles, ainda aparecia apenas nos écrans de televisão ou nas páginas dos jornais. Uma guerra que ainda não os estropiara fisicamente nem lhes roubara nenhum ser querido; mas uma guerra de civilizações, um choque que já não cabia nas páginas do livro do Samuel, antes, irrompera pelas ruas e tomara-as de assalto. Tomara-os a todos de assalto.

O cenário deu forma à prisão das palavras para onde eles, os ocidentais, se foram deixando arrastar ao longo de anos. Esse politicamente correcto que os amputou da identidade e da riqueza da diferença, que os espoliou da paixão de discordar porque não! e concordar porque sim! e os obrigou a um permanente e insípido talvez, a bem de uma paz pálida, oca e chocha, esventrada de cores e de credos.

Que tontos se sentiram! A realidade ria-se deles, escarnecia, às gargalhadas. E, ali mesmo, sem compaixão nem piedade, roubou-lhes a ilusão da liberdade que julgavam ter e impôs-lhes o medo que gritavam não possuir.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Estão Todos Perdoados...

Tenho a mania que percebo de política e de políticos. É mais um daqueles temas sobre os quais tenho opinião, porque também tenho opinião sobre tudo, como sabem todos os que me conhecem. De modo que, quando estamos a ver e a ouvir notícias e eu começo a disparar em todas as direcções, o meu filho pergunta-me muitas vezes, Mamã, gostas daquele(a) senhor(a)?, ou, Mamã, achas que aquele(a) senhor(a) é sério(a)/competente/etc?

Vem isto a propósito de mais uma notícia sobre mais um autarca que, mais uma vez, não declarou ou não actualizou o que devia ter declarado ou actualizado.

Eu não sei como é que esta gente faz! Eu, por duas vezes, esqueci-me (mas esqueci-me mesmo, sublinho) de cumprir, a tempo e horas, com duas obrigações fiscais. Em ambos os casos, os esquecimentos saíram-me caro: quase 200 euros por ter entregue uma declaração de IVA fora do prazo e, não me lembro quanto, mas bastante menos, porque me atrasei um dia (um dia!) a pagar o IUC.

Parece que os “esquecimentos” para com o fisco (e para com a segurança social) só têm custos para alguns.

Eu não sei se Fernando Medina foi esquecido, negligente, pouco sério ou se, pelo contrário, fez tudo como devia. Só sei que me envergonha ver a complacência com que Portugal, na forma dos seus governantes e não só (afinal, somos “nós”, povo, que os escolhemos) encara a falta de despudor dos seus representantes. E envergonha-me que, da esquerda à direita, a falta de seriedade de quem ocupa cargos políticos, a falta de respeito pelas instituições, a leviandade com que se usufrui de dinheiros públicos, carregue ao colo, de bandeja, todos os “Isaltinos” deste país. Como se estivéssemos condenados a escolher apenas entre aqueles que subtraem só a seu favor e os que, espoliando-nos igualmente, ainda vão fazendo qualquer coisa pelos “outros”.