As carrinhas dos carabinieri alinhavam
com os impressionantes blindados militares. As metralhadoras suspensas dos
ombros apontavam para o chão, mas os homens agarravam-nas firmemente em posição
pronta a levantar e disparar. O aparato militar, muito maior que o policial,
era brutal. Nas ruas, nas estações de metro, à porta de qualquer edifício
governamental ou de interesse turístico, o que, naquela metrópole, significava,
literalmente, em cada canto e recanto. Apenas aquela espécie de pompom que
compunha o gorro vermelho dos militares fardados a rigor conferia alguma
suavidade à hostilidade do cenário. Um adereço quase infantil num conjunto
adverso, agressivo, oponente. Omnipresente.
A sensação de estarem em guerra atingiu-os mais
violentamente do que nunca. Uma guerra silenciosa, na maioria das vezes. Uma
guerra que, para eles, ainda aparecia apenas nos écrans de televisão ou nas
páginas dos jornais. Uma guerra que ainda não os estropiara fisicamente nem
lhes roubara nenhum ser querido; mas uma guerra de civilizações, um choque que
já não cabia nas páginas do livro do Samuel, antes, irrompera pelas ruas e
tomara-as de assalto. Tomara-os a todos de assalto.
O cenário deu forma à prisão das palavras para onde eles,
os ocidentais, se foram deixando arrastar ao longo de anos.
Esse politicamente correcto que os amputou da identidade e da
riqueza da diferença, que os espoliou da paixão de discordar porque não! e
concordar porque sim! e os obrigou a um permanente e insípido talvez, a bem de
uma paz pálida, oca e chocha, esventrada de cores e de credos.
Que tontos se sentiram! A realidade ria-se deles, escarnecia, às gargalhadas. E, ali mesmo, sem compaixão nem piedade, roubou-lhes a ilusão da liberdade que julgavam ter e impôs-lhes o medo que gritavam não possuir.