domingo, 16 de julho de 2023

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Rouba(-se), mas faz(em todos)

Continuo a ter a melhor impressão de Rui Rio – banhadas de ética (e sisudismo cinzento) à parte; enfim: por melhor, no que a políticos diz respeito, entendo que pertence à classe do que mais sério pode haver na política de topo, e, de topo, pelo cume e mais visível, não necessariamente pelo melhor-melhor.

Tudo isto é horrível de se dizer e escrever, eu sei; a ignomínia do “são todos iguais”, e por igual dizer corruptos, patifes, a servir-se de em vez de servir a, mas às vezes é difícil manter a boa-fé.

Rui Rio não será corrupto, nem patife – e eu acho que não é –, mas uma prática não passa a ser legal porque a praticam todos, como uma mentira não passa a ser verdade porque a repetem todos, que é como quem diz, a propósito, o relatório da CPI à TAP não deixa de ser um embuste por muito lapidar e lapidada que seja a retórica do PS na sua defesa.

Mas, há ilegalidades e ilegalidades, supondo que existem ilegalidades. Existindo, a não ser que o “alegado” desvio de dinheiro tenha servido para pagar a assessores-fantasma, alugar pavilhões transfronteiriços (também com qualquer coisa de fantasma) lá para os lados de Caminha, usar dinheiro público de uma empresa pública para comprar essa empresa pública, e outras maravilhosas obras de engenharia financeira mas não só em que parecemos ser formidavelmente – e alegadamente, sempre alegadamente  competentes na gestão do erário público, dificilmente se compreende aquele circo à porta de casa de Rui Rio. A não ser numa lógica tenebrosa de pequena vingança, num país pequeno, de gente mais pequena ainda. Parece absurdo, não fosse este um país que convive bem com Galamba como ministro, mais a sua chefe de gabinete com acesso directo aos senhores do SIS (parece que o podemos todos, é como o senhor Presidente a garantir ter sido muito bem tratado do desmaio, apesar das greves no SNS), um Pedro Nuno Santos retornado e aclamado, ou um ministro da Administração Interna a repreender uma estação de televisão pública por desagrados com um cartoon. Isto é tudo normal?


quarta-feira, 12 de julho de 2023

O Centro de Arte Manuel de Brito, em Lisboa, mostra, até ao final do ano, uma pequena colecção da obra de Ruy Leitão, de quem eu desconhecia tudo, até a sua curta existência. Foram duas ou três frases nas descrições que li noutras poucas notícias que o acaso trouxe ao meu encontro que me levaram lá. Aproveitei e levei o meu filho: ainda resiste, sem ressaca, a algumas horas alheado disso a que chamamos dispositivos móveis, em cima de um programa qualquer coisa cultural na companhia da mãe – é um estado de graça, breve, que já dura mais do que eu imaginava e que não posso e não quero desperdiçar.

A entrada é gratuita, saía um homem quando chegámos, e, de resto, não havia mais visitantes; éramos só nós. Pudemos demorar-nos sobre todos os traços, sobre todas as cores, a vida, a morte, o “mundo às avessas”, concordamos sobre uns rabiscos, discordamos sobre outros, perdemos o tempo como o tempo merece ser perdido. E digo rabiscos com a devida vénia, porque foi um encontro feliz. Não sei fazer crítica sobre pintura, não sei fazer crítica sobre quase nada, ou gosto ou não gosto, nem sei se Ruy Leitão cabe na minha definição de pintor: o que fez, surge-me mais como desenho e menos como pintura, mas gostei bastante, gostámos bastante, e, ficámos ali a saber, Paula Rego disse dele que era um artista único – deve bastar.