quarta-feira, 30 de novembro de 2022
sábado, 26 de novembro de 2022
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
Na semana pré-covid bateram-me no carro. Pela segunda vez na mesma rotunda. Dizem que não sabemos fazer rotundas e é verdade, não sabemos fazer rotundas.
Da
primeira vez, o outro condutor não quis assumir a culpa, e as seguradoras
engendraram um plano para partilhar custos e, portanto, culpas, sabe como é,
uma deve quinhentos a outra deve quinhentos, nas palavras do perito
para me “explicar”, o suposto entendimento entre ambas as companhias: como?, não,
não sei como é, alguma vez, o meu cadastro para lá de impecável manchado por um palerma
que não sabe fazer rotundas – tive de recorrer a um daqueles julgados de paz, não sei se ainda existem, para fazer valer a minha razão.
Desta
vez, o outro condutor era uma mulher prática: peço imensa desculpa vinha
distraída tenho aqui uma declaração amigável se não se importa despachamos isto
que tenho um compromisso inadiável e a culpa, evidentemente, é minha. Ainda
me enviou uma mensagem duas horas antes da minha companhia de seguros a informar-me
que, sim, o seguro dela assumiria o arranjo a cem por cento, e, se nos
voltarmos a encontrar, que sejam circunstâncias mais simpáticas. Com emoji e
tudo. Fiquei chocada, uma mulher prática não usa emojis. Ou usa? Estou a pensar que ainda lhe telefono para marcar um café. Nos dias que
correm, não convém desperdiçar gente decente; até lhe perdoo o emoji.
domingo, 20 de novembro de 2022
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Dois
anos e vários meses depois, finalmente e oficialmente, cedi. Dizem-me que é
covid, mas, se me dissessem que alguém moldou um boneco de vodu à minha imagem
e semelhança e entretanto se entretém a espetar-lhe estacas finas e afiadas
várias vezes ao dia desde há vários dias, não sei se me sentiria pior.
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
"O meu errante
não fazer nada vive e espalha-se pela variedade da noite.
A noite é uma longa festa solitária.
No meu secreto coração louvo-me e justifico-me.
Testemunhei o mundo; confessei a estranheza do mundo.
Cantei o eterno: a clara lua que regressa e as maçãs do rosto que o amor prefere.
Comemorei com versos a cidade que me cinge
e os arrabaldes
que me desterram.
Eu disse assombro onde outros dizem apenas costume.
Perante a canção dos tíbios, acendi a minha voz em poentes.
Os antepassados do meu sangue e os antepassados dos meus sonhos.
exaltei e cantei.
Já fui
e sou.
Travei em firmes palavras o meu sentimento, que poderia
dissipar-se
em ternura.
A lembrança de uma antiga maldade volta a meu coração.
Como um cavalo morto que a maré lança à praia, volta ao meu coração.
Ainda estão a meu lado, no entanto, as ruas e a lua.
A água continua a ser doce na minha boca e as estrofes não me negam sua graça.
Sinto o pavor da beleza; quem se atreverá a condenar-me se esta grande lua da minha solidão me perdoa?"
domingo, 6 de novembro de 2022
Corrupções à la carte
Parte da direita portuguesa que renega com enfático nojo a corrupção de Lula da Silva e, consequentemente, a sua reeleição no Brasil, convive bem com a escolha do ex-presidiário Isaltino Morais para a presidência da câmara de Oeiras. É só uma Câmara Municipal, eu sei, não é o mesmo que o (des)governo de um país inteiro. Ainda assim, já existe um precedente, não é preciso fantasiar com o regresso de José Sócrates, que, na verdade, ainda não foi condenado, provavelmente nunca será julgado, e, portanto, até "prova em contrário", é inocente, mesmo que ninguém em pleno uso das suas faculdades mentais (se calhar, basta um uso assim-assim) acredite na extraordinária história do amigo e da mãe e do cofre. Essa é outra parte interessante da coisa: os mesmos que não duvidam da patifaria de Sócrates, também não duvidam da seriedade do "dinheiro vivo" com que a família Bolsonaro comprou umas dezenas de imóveis. Eu duvido da lisura de qualquer um daqueles quatro, mas há uns patifes mais (ou menos) insuportáveis do que outros e, aparentemente, é entre esses que andamos condenados a escolher.
Imagino que nunca chegaremos ao dilema Sócrates ou Ventura. E se não tenho dúvidas quanto ao primeiro, não sei bem se o segundo merece tão ameaçador estatuto: comparado com os seus congéneres, parece um menino do coro. Nada disso, porém, me livra da presente sensação de uma espécie de orfandade de representação política, e não devo ser a única. Este fosso inconsertável entre "a direita" e "a esquerda" não me move e não me serve, mas seria incapaz de me sentar à mesa com um tipo como o ainda presidente do Brasil.
Os mais de cinquenta milhões de votos que Jair Bolsonaro conseguiu ainda, como os mais de setenta milhões de votos em Donald Trump nas últimas eleições presidenciais nos EUA, devem servir, pelo menos, para moderar a aversão dos livre-pensadores àquela ideia de rebanho: rebanho por rebanho, parece haver dois, a originalidade já não é o que era; e o mesmo para o “pensamento único”, ou a “superioridade moral”, embora, devo confessar, superioridade moral seja pecado que me assalta amiúde quando ouço os argumentos de alguns dos mais acérrimos defensores dos bolsonaros e dos trumps: não são contra a "ideologia do género" – eu também sou –, a favor do controlo da emigração – eu também posso ser –, pró-família-tradicional – não sei se sou, não sei se sei, mas sei que não há nada de errado em sentirmo-nos identificados com –, ou anti-aborto: são assumida e ferozmente contra todos os que ousem beliscar o seu mundo, o seu modo de vida. "Bolsonaristas" e "Trumpistas" continuam a berrar, sem conseguirem apresentar qualquer prova, contra a fraude das eleições presidenciais, alguns por convicção, talvez, mas muitos, sem dúvida, por oportunismo: defendem a liberdade e a democracia na medida exacta da sua vontade.
Pode acusar-se do mesmo a esquerda-radical. O mal-denominado movimento woke veio impor um sem-número de regras, da linguagem ao comportamento, que pretendem salvar a Humanidade das esquinas afiadas da existência: viver deve ser livre da ofensa e da contrariedade, uma infantilização concertada para salvar o mundo dos pecados dos homens, mas sem o calvário e a Paixão de Cristo, sem crucificação. A felicidade ao alcance de um decreto. Evidentemente, não está a resultar.