terça-feira, 31 de julho de 2018

Da Liberdade de Expressão À Liberdade de Ser Idiota

“El año que viene se cumplen 50 años (supuestamente) que el hombre pisó la Luna. Estoy en una cena con amigos... discutiendo sobre ello. Elevo la tertulia a público! Creéis que se pisó? Yo no!”; palavra de Iker Casillas, que não (?) acredita que o Homem tenha chegado a ir à Lua. Nos la colaron…Confesso que, mesmo para futebolista, é imbecil de mais. Mas, deve ser defeito meu, porque parece que há mais de 40% (entre os que respoderam ao "desafio") de outros imbecis a concordar com o Iker e, desconfio, nem todos jogam à bola.

Donald Trump também não acredita no aquecimento global. Há quem não acredite que a Terra é redonda. E, aparentemente, cresce o número de pais e mães que não acreditam na vacinação dos filhos como forma de os proteger de doenças graves.

No caso de Iker Casillas – e, apesar dos futebolistas, em geral, não serem reconhecidos pela grande inteligência, de facto – imagino que ele esteja só de broma. Para ocupar o tempo. Uma espécie de deixem lá ver quantos parvos caem nisto. E, assim, chegámos ao direito à liberdade de expressão. Essa “liberdade de expressão” baseada em palpites de gente semi-famosa, ou em artigos pseudocientíficos entretanto provados como sendo autênticas fraudes, mas a quem é que isso interessa?

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão, assim diz o artigo 19º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tal-qual! Não há, ali, nadinha que impeça um indivíduo ignorante de propagar a ignorância. A democracia tem destas coisas…O livre arbítrio ao serviço da boçalidade impingida pelas modas das redes sociais, servido em todas as variantes e para todos os gostos, em bandejas de luxo, perdão, de lixo, dos que estarão sempre à mercê desses admiráveis influencers (principalmente) do mundo virtual.

Para os adeptos das diferentes teorias da conspiração, ao melhor estilo Matrix, repetir uma mentira muitas vezes, ou nem por isso, é quanto basta para torná-la verdade absoluta. A ciência é uma patranha; um logro sofisticado e maquiavélico com o único objectivo de domar a humanidade e vergá-la aos interesses económicos das diferentes indústrias. Os iluminados há muito tomaram o comprimido vermelho e libertaram-se das garras do conhecimento científico para se entregaram aos hunches do momento. Os outros, os que acreditam em factos e que discutem com base em factos, permanecem, coitados, ligados à máquina e submersos nas mais densas trevas…

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Pela Boca...

…Morre o Peixe. Lá diz o ditado. E os ditados, como se sabe, alimentam-se (também) dos vícios e das fraquezas dos Homens.

O problema de apregoar virtudes sem lhes seguir a linha é que, tarde ou cedo, o dissimulado virtuoso há-de tropeçar, com mais ou menos estrondo, derramando, irremediavelmente, toda a sua putrefacta pureza.

 “Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo”. Pobre Confúcio. Vivesse ele agora e ainda não teria visto ninguém que amasse tanto a virtude quanto ama a sua conta bancária.

A virtude tem destes defeitos. Como a coerência, estão destinadas aos imbecis. É mais prudente não as levar demasiado a sério, não vá dar-se o caso de termos que renunciar a uma magnífica oportunidade de entrarmos para o rol dos privilegiados por uma qualquer convicção chocha que tivemos que defender no passado (mesmo que esse passado não esteja muito longe). Foi assim com a casinha de 600 mil euros de Pablo Iglesias, em Espanha, é assim com o imóvel em Alfama de Ricardo Robles (será do apelido?). Afinal, a perspectiva de lucrar, em pouco mais de quatro anos, 4-vírgula-qualquer-coisa milhões de euros numa transação comercial (legal, legítima e blá, blá, blá, blá…) choca de frente - e de forma muito violenta e dolorosa, diga-se! - com a indignação contra a especulação imobiliária. Como não ser sensível a tantos dígitos? O vereador Ricardo pode continuar a insurgir-se contra a malévola Cristas mais a sua lei, enquanto o (co-)proprietário Robles evoca as mesmas para mostrar, até, benevolência na actualização das suas rendas. Assim uma espécie de Heckel and Jeckel do fantástico mercado imobiliário.

“Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.” Ora, essa! Quem disse?

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Jornalismo Poucochinho

“Quem é que paga e quanto é que custa”, (ajudar a salvar uma vida), perguntou, insistentemente e em directo, o jornalista da Sic, Rodrigo Pratas, terça-feira à noite, ao Secretário de Estado da Protecção Civil, José Artur Neves. Face à manifesta falta de vontade e desconforto do visado em responder à questão, naquele contexto, o jornalista puxou da legitimidade daquela.

Os jornalistas têm o inequívoco e incontestável dever de interpelar o poder político, e outros, em relação a todos os temas que dizem respeito à gestão dos cargos exercidos, pagos com dinheiros públicos (de nós todos, portanto!) e, particularmente, no que se prende com gastos e custos, pois com certeza! E, claro, o nosso direito à informação plena e detalhada não deve compadecer-se com incómodos dos interpelados, ora essa! A pergunta é, por isso, legítima. E oportuna, é? Naquele dia?

Teria adorado ver tanta assertividade, tanta transparência e firmeza, por parte da imprensa, em geral, e dos jornalistas, em particular, nas várias entrevistas a tipos como Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, António Mexia e tantos outros que por aí pululam, onde a legitimidade de perguntar e o direito à informação esbarram, tantas vezes, com a deferência patética e a quase vassalagem a quem se julga à margem do justo escrutínio…Talvez, Rodrigo Pratas ainda não tenha tido essa oportunidade.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Presumíveis Culpados, ou a Vergonha de Ser Honesta

Quando alguém atira uma beata de cigarro pela janela do carro que vai à nossa frente ou quando temos que afastar as beatas da areia para estender as toalhas de praia – mesmo naquelas praias que ostentam o típico símbolo de qualidade ambiental – não poucas vezes o meu marido desabafa um resignado “todos os fumadores são porcos até prova em contrário”. Assim mesmo. Em tom depreciativo. Para os porcos, porque, aparentemente, os animais até são limpos, sensíveis e inteligentes. Não os que atiram as beatas para o chão, os outros.

Adiante. Na política e nas elites sociais será mais assim: todos os suspeitos são culpados até prova em contrário. Se não é assim, parece exactamente assim. De José Sócrates a Manuel Pinho, de Armando Vara a Henrique Granadeiro, de Ricardo Salgado a Zeinal Bava, e tantos, mas tantos, etceteras mais que já ninguém acredita numa palavra desta gente.

Quando algum peixe graúdo surge apontado como suspeito ou arguido de qualquer crime, há três coisas que me fazem sempre suspeitar da suposta vontade que manifestam no cabal esclarecimento da verdade: a evocação do eterna e selectivamente violado segredo de justiça, a reclamação da presunção de inocência e a escolha dos doutos advogados de defesa.

Este fim de semana, ler o jornal Expresso e as revistas Visão e Sábado foi um exercício de levar à náusea qualquer pessoa de bem; impróprio para pessoas decentes que, apesar de tudo, ainda existem neste maravilhoso país. Deviam ter sido vendidos com bolinha vermelha acompanhada da indicação as publicações que se seguem contêm notícias susceptíveis de ferir o sentido de honra e decência dos leitores.

Quando se diz que, em Portugal, as pessoas são invejosas em relação a quem tem dinheiro deve ser porque, quando se vê como é que algum dinheiro é ganho, a margem é pouca para acreditar no mérito próprio. Entre as amnésias selectivas, os desconhecimentos súbitos e altamente oportunos, os procedimentos legais-barra-imorais e outras coisas que tais, sobra pouco para o benefício da dúvida e para a tal presunção de inocência. A promiscuidade entre política, negócios e alta finança é tanta e tão descarada que é impossível não desconfiar de toda a gente. E os esquemas estão tão enraizados na nossa maneira de estar que há quem conviva bem com ter uma “casa” recuperada com dinheiro que portugueses de bem (alguns, sabe-se lá com que sacrifício próprio!) reuniram para acudir às vítimas dos acontecimentos mais dramáticos que se viveram em Portugal, no verão passado. Não é nada de mais, certo? Os deputados também dão moradas de casas onde não vivem para poder engordar os ordenados mais um bocadinho e muitos encarregados de educação fornecem moradas falsas para matricular os seus filhos nas melhores escolas. Dir-se-á que não é comparável, é um facto, mas a questão é aceitação do que é errado como sendo normal. Os que entram no esquema são expeditos e inteligentes; os honestos, basicamente, otários e pouco eruditos.

Ser honesto não devia ser motivo de exultação, mas, pelo menos, não devia embaraçar-nos. Ainda assim, aqui há uns anos, vivi uma situação surreal que me fez ter alguma vergonha de ser séria. Encontrei-me com uma amiga na Fnac do Cascaishopping. Enquanto ela não chegava, sentei-me na parte da cafeteria, com um livro que pretendia comprar e comecei a ler, para ocupar o tempo. Quando a minha amiga chegou, trazia um embrulho que me entregou. Era uma T-shirt para o meu filho, pintada com um desenho do filho dela. Uma oferta de afectos. O caso é que coloquei o embrulho em cima do livro (tinham mais ou menos as mesmas dimensões) e fomos ficando por ali, a conversar. Quando, finalmente, saímos as duas da Fnac, nunca mais me lembrei do livro. O alarme, à porta da loja, não soou e só quando voltei a entrar no meu carro e pousei as coisas no banco ao lado é que reparei que saíra sem pagar o livro! Voltei à Fnac para fazer o pagamento e expliquei a situação, desculpando-me. A senhora que me atendeu chamou-me anjinho. Estive para lhe atirar o livro à cabeça. Nunca tinha tido vergonha de ser uma pessoa honrada, mas, parece que tinha sido mais avisado ter seguido o meu caminho. Parece o retrato perfeito da sociedade em que vivemos.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Sai um idiota fresquinho, se faz favor!

Não sei se me ria se chore:pesquisa-idiot-e-aparece-trump

Abomino tudo aquilo e mais alguma coisa que Donald Trump representa, mas isto é assustador. Será que podemos e devemos lutar com as mesmas armas que repudiamos?

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O Circo dos Beras

As discussões públicas, nomeadamente sobre política e futebol, tornaram-se obscenos circos mediáticos com palco nas principais estações televisivas, mesmo nas ditas de referência. Não faltam, sequer, palhaços de estilos vários, em solo nacional e internacional.

Apresentadores e pivôs de telejornal fazem as honras da casa, com enorme entusiasmo e alarido, estendendo generosamente o tapete vermelho a toda a espécie de demagogos, populistas, mentirosos, corruptos e candidatos a corruptos, chico-espertos e mais outro tanto de artistas que usurparam o país como cadafalso privativo, fazendo dos restantes cidadãos os condenados. Hoje, os corninhos de Manuel Pinho seriam encarados com brandura, quiçá, com humor ou até com bravura.

Inaugurou-se uma forma de estar na política e na vida em que apenas os tolos se podem dar ao luxo de ter rasgos de seriedade e lisura. As elites, essas comportam-se como bandos organizados de arruaceiros envernizados, do chico-esperto mais básico ao finório mais ardiloso e matreiro. De dirigentes políticos a dirigentes desportivos, de ministros e ex-ministros a assessores, da cigarra à formiga, se não todos assim parece, procuram proveitosos fins quaisquer que sejam os meios.

O povo, mercê da voragem vertiginosa das redes sociais, entretém-se em intensas orgias de ódios instantâneos e fugazes repulsas, trocando de alvo como quem troca de par em bailes de swing. Um caderno para menina não pode ser cor-de-rosa sem que isso levante um coro de gritos furiosos, mas um ministro em funções pode acumular ordenados com milhares de euros mensais provenientes de recheados e famosos sacos azuis sem que os Facebooks e os Twitteres se incendeiem. Os que consideram uma aberração que uma avó possa parir um neto são intelectualmente atrasados, egoístas e inclementes com a dor dos que não podem ser pais de outra forma, mas um pedófilo pode continuar em liberdade e a conviver com crianças até serem esgotados todos os recursos, da primeira à última instância, pois é prova de elevado intelecto respeitar a lei até às últimas consequências. Apontar o dedo e duvidar, à margem de decisões judiciais, da idoneidade e honestidade de quem ostensivamente se comporta como embusteiro e larápio revolta as entranhas dos acérrimos defensores do estado de direito e das minudências da lei, mas a raposa, depois de condenada, pode voltar a assenhorar-se do galinheiro que já pilhou sem que, por isso, tremam as redes sociais.

Hoje, é possível mentir, ludibriar, roubar (muito, claro!) sem que isso cause grande alarme social, mas limitar os géneros ao masculino e feminino é motivo de perseguição cerrada pelas brigadas pró-tolerância. As plataformas virtuais censuram e eliminam, implacavelmente, imagens de nus sejam eles a origem da vida ou o terror da guerra, mas, negar o holocausto deve, delicada e elevadamente, enquadrar-se no direito à nossa(?) liberdade de expressão.

Somos implacáveis, mas, apenas quando isso dá likes. De outro modo, a ira esvazia-se. Cada um segue o seu caminho por entre os pingos da chuva. Tomadas de posição, só em massa, a reboque do rebanho e, claro, desde que esteja na moda.

Para não fugir à regra, parece que o último golpe de génio é o aproveitamento da tragédia de Pedrogão Grande. Como não? Segundo a revista Visão, o esquema consiste na alteração das moradas fiscais, já depois da data dos incêndios, para que habitações não permanentes fossem tratadas como primeiras casas - mesmo aquelas onde ninguém vivia há anos. Que valores queremos deixar às nossas crianças e jovens? Dá nojo.

A dupla negativa...

Já estávamos familiarizados com as delicadas inverdades, as inconvenientes fake news e os coloridos factos alternativos. Também não desconhecíamos os lapsus linguae (acontece aos melhores…) e as dramáticas descontextualizações; as proveitosas amnésias dos políticos e dos donos disto tudo e o desconhecimento periclitante e amador dos gestores de topo. Faltava-nos, no entanto, a inovadora e elegante dupla negação que Donald Trump (quem mais!?) invocou para se defender da chuva de duras críticas de que foi alvo, por assumir publicamente que tomava como verdadeira e impoluta a palavra de Vladimir Putin no que toca à alegada ingerência russa nas últimas eleições presidenciais americanas.

“Em quem acredita?”, perguntou o jornalista da Associated Press, Jonathan Lemire, a Donald Trump lado a lado com o presidente russo, em plena conferência de imprensa, em Helsínquia. Uma pergunta simples nem sempre exige uma resposta simples, é um facto. Mas, Donald Trump deu uma resposta simples; à sua maneira. Se não no conteúdo, pelo menos, na forma. Com a sua habitual inépcia e vocabulário rudimentar, Trump começou por dizer qualquer coisa do género “a minha gente falou comigo, Dan Coats e outros, e dizem que acham que foi a Rússia”. Ora, com o presidente Putin ao seu lado, nada mais inteligente e astuto do que perguntar ao próprio, não?, pelo que, Donald Trump rendeu-se a essa brilhante e eficaz estratégia política e rematou “eu tenho o presidente Putin a dizer que não foi a Rússia e digo isto: não vejo por que razão seria”. “Não vejo por que razão seria”. Vários forward and rewind depois (afinal, o inglês, aparentemente, também é uma língua traiçoeira…), posso jurar que foi mesmo isto que Trump disse. Mas, só que … parece que não.

Dois dias de mimos depois – desde traidor, erro trágico, vergonhoso, bizarro e afins – Trump foi ao Twitter (outro must) reforçar a GREAT confidance que tem nos SEUS serviços de inteligência. Assim, em letras gordinhas e maiúsculas para não haver mal-entendidos. E, para que não restassem mesmo dúvidas – afinal “devia ter sido óbvio, pensei que fosse óbvio, mas, queria esclarecer para o caso de não ter sido” – Trump veio afirmar que, nas suas declarações em Helsínquia, usara a palavra, “seria”, em vez de “não seria”. Ou seja, frase deveria ter sido “Não vejo nenhuma razão por que não seria a Rússia.” Uma espécie de dupla negativa, também nas sábias palavras do próprio. Tudo isto, em directo para as televisões e sem corar de vergonha. A seguir, ainda aceitou (imagino que a custo) a conclusão dos Serviços Secretos americanos de que houve interferência da Rússia nas eleições de 2016, para logo acrescentar que também poderiam ter sido outros, pois há muita gente por aí

Imagino que, quando voltar a reunir-se com Vladimir Putin, Donald Trump lhe explique que, desta vez, terá usado a palavra “aceito” em vez de “não aceito” a conclusão dos seus Serviços Secretos. Mas o diabo mora nos detalhes e, a provar que eles andam mesmo por aí, as luzes da sala onde Donald Trump se desdizia com máxima e empolgante convicção desligaram-se.

Tudo isto teria imensa graça, não fosse dramático e perigoso. Foi inaugurada uma nova forma de estar na política (e não só), onde cabem todas as formas possíveis da mais perniciosa desonestidade e com as quais, aparentemente, se convive bem, pois causam menos indignação do que todas as formas do é p´ro menino e p´ra menina e seus derivados.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Redes Sociais: Use com Moderação

Um dos mergulhadores ingleses que participou nas operações de resgate dos doze meninos tailandeses e do seu treinador sugeriu que Elon Musk podia “stick his submarine where it hurts”, que é como quem diz, ele que enfie o submarino onde lhe doer. Fantástico, não é? A brilhante tirada vinha na sequência – em declarações à imprensa – de uma pergunta sobre qual teria sido exactamente a intenção do CEO da SpaceX ao enviar o “mini-submarino” para Mae Sai. Na opinião do mergulhador, o mini-submarino não tinha qualquer hipótese de funcionar como opção de recurso ao salvamento e Musk, por sua vez, não teria qualquer noção das características da gruta no que toca aos percursos a realizar. Não estando em causa a perícia dos mergulhadores – e daquele, em particular – para criticar a fiabilidade das soluções apresentadas por outros, mandava o bom senso que não se caísse na brejeirice. Digo eu, que estou bastante desactualizada nestas coisas.

Se um foi pouco elegante, a resposta do outro não ficou atrás e, recorrendo ao Twitter, Elon Musk acusou de pedofilia, nem mais nem menos!, o mergulhador inglês, de seu nome, Vernon Unsworth. E, claro está, sem fundamentar a acusação pois para isso é que a malta quer as redes sociais. Lógica? Da mais simples: Unsworth vive na Tailândia, a Tailândia tem um dramático problema de prostituição infantil, logo, Unsworth é pedófilo! Assim, uma espécie de tabela de verdade que só é “verdade” na ligeireza do bullying virtual que permite amigar e desamigar, bajular e insultar, dizer e desdizer de forma, aparentemente, tão apaixonada quanto inconsequente.

Eu acho que as redes sociais deveriam apresentar um alerta, assim ao estilo dos maços de tabaco: “a utilização de forma estúpida prejudica gravemente a sua saúde e a dos que o rodeiam”, ou, “descarregar baboseiras-barra-insultos nas redes sociais pode provocar a morte lenta e dolorosa da sua inteligência”.

É inacreditável como pessoas adultas e, supostamente, dotadas de algum discernimento, com provas dadas de competência em diferentes áreas, podem chegar a ser tão básicas.

Quando o meu filho era mais pequenino, perguntava-me muitas vezes “mamã, os adultos também fazem disparates?”. A inocência das crianças é algo delicioso; mas, olhando para o lado positivo da coisa, sempre podemos usar o seu valor pedagógico…

"Fake You"

Donald Trump voltou a ser Donald Trump. Depois das histéricas ameaças à NATO, depois dos insultos mais ou menos velados a Theresa May, depois dos disse-e-não-disse travestidos de fake news – tão caras ao próprio – o presidente dos EUA destratou, com pompa e circunstância, a rainha Isabel II.

Pessoalmente, não me incomoda muito que um homem rude, malcriado e estilo arruaceiro de esquina mal frequentada atropele protocolos monárquicos e, pelo meio, sua alteza a rainha-mãe. Não tenho qualquer afinidade com a monarquia, em nenhuma das suas vertentes. Mas, choca-me profundamente que um brutamontes desrespeite, ostensivamente e para o mundo inteiro ver, uma senhora de 92 anos e, ainda mais, sendo seu convidado.   

No entretanto, Donald Trump anunciou que será candidato a um segundo mandato como presidente da América, porque não vislumbra nenhum democrata capaz de lhe fazer frente. É natural. É sempre difícil argumentar com lunáticos. Mais ainda, com lunáticos que são, ao mesmo tempo, mentirosos compulsivos e candidatos brilhantes ao prémio de melhor bully do ano. Se fiquei absolutamente pasmada com a primeira eleição deste homem, já não me espantaria que voltasse a arrebatar a presidência dos EUA. Afinal, muitas são as críticas que lhe tecem, mas, a verdade é que o estilo vai colhendo frutos…

terça-feira, 10 de julho de 2018

O Milagre da Vontade

"Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a electricidade e a energia atómica: a vontade." É uma das minhas frases preferidas. Se dúvidas houvesse quanto à convicção de Albert Einstein, bastava ter estado com os olhos postos nestas treze crianças tailandesas e no seu treinador, nestes últimos dias. E, também, naqueles que se disponibilizaram a ajudá-los.

Contra (quase) todas as expectativas, todos os peritos, todas as opiniões fundamentadas na técnica e na experiência e muitos outros eteceteras, um grupo de pessoas fantásticas protagonizou uma história que tem tanto de assustadora como de electrizante. Porque os “milagres” fazem-se, precisamente, da vontade de todos aqueles que se envolvem de corpo e alma nas tarefas a que se propõem. "Algo só é impossível até que alguém duvide e prove o contrário", terá dito, também, o génio.

Não sei se os meninos e o seu treinador aprenderam ou não a mergulhar, se saíram em macas, se terão sido ou não sedados ou outro tanto de coisas que se disseram nos meios de comunicação social. Mas sei que todos os especialistas, entre psicólogos, mergulhadores e outros técnicos competentes, chamados a dar os seus profissionais pareceres, foram unânimes nas enormes dúvidas em relação ao sucesso desta operação. Esqueceram-se dessa tremenda vontade que molda a alma dos que acreditam e se alimentam desse querer.

Tal como outras vezes, a realidade superou a ficção, mas, desta vez, na forma de um final admiravelmente feliz.

Ao  milagre do resgate, some-se a tremenda onda de solidariedade dos que se juntaram para apoiar as equipas de resgate, os jornalistas e as famílias dos meninos. Numa história feita de coragem, resiliência, persistência, competência e perseverança, a mulher do presidente da câmara de Mae Sai – que é presidente da Cruz Vermelha local – mostrou o que é o verdadeiro serviço público: fez uma “vaquinha” com os elementos da sua equipa e, com dinheiro pessoal, compraram os primeiros mantimentos e começaram a preparar as primeiras refeições. Antes de estar tudo mais organizado. Qualquer semelhança com a realidade de alguns é pura coincidência. Mas, também, tudo nesta história é maravilhosamente inacreditável. 

Seguramente, os sorrisos e a alegria das crianças e das suas famílias estarão também com aquele outro herói que perdeu a vida para ajudar a salvar as suas.