Há uma frase que se atribui (dizem que erradamente) a Isaac
Newton de que gosto particularmente, embora nada tenha a ver com qualquer das
três famosas leis da Física: "Tact is the art of making a point without
making an enemy".
Ora, todos sabemos que tacto é coisa que o mais recente e
alaranjado presidente dos Estados Unidos não tem. De facto, Donald Trump é o
elefante da loja de porcelanas e a loja de porcelanas é o mundo ao seu redor.
Cada vez que o homem levanta a mão direita para debitar os 4 ou 5 adjectivos
que enriquecem o seu léxico, ou para disparar mais um twitte naquele que é o
seu de comunicação predilecto, parte-se mais uma peça. Desta vez, a peça
partida tem um valor incalculável porque não consta que a paz tenha preço, pelo
menos, em termos monetários apesar das modernices das moedas virtuais, como as
bitcoins e afins.
Donald Trump é o rufia valente do
agarrem-me-senão-vou-me-a-eles e parte do problema é que ninguém o agarra. Já
se percebeu. Arrogante e autoritário (e mais uma série de títulos bem menos
eufemísticos), manda nos Estados Unidos como manda nas suas empresas, trata
todos quantos o rodeiam como trata os seus empregados e, se não concordam,
estão despedidos! Espanta-me sempre como é que um homem que parece menos
inteligente do que o meu filho de 10 anos (que tem, pelo menos, um vocabulário
mais vasto) seja um reconhecido empresário de sucesso, um monstro dos negócios,
um magnata não self-made, mas quase e, já lá vai um ano, presidente dos EUA. É
fantástico!
O Hamas já apelou, vigorosa, perigosa e apaixonadamente,
a uma nova Intifada contra Israel, pelo que, entre os enormes atributos de
Trump, também constará para a História, a habilidade de ter feito mais do que o
próprio Daesh pelo ódio contra o mundo ocidental. Creio que não será preciso
ser grande analista político ou especialista em questões do Médio Oriente para
imaginar o que por aí vem. A não ser que a imaginação não chegue.
Donald Trump escolheu colocar-se ao lado de Benjamin
Netanyahu. Assim, numa espécie gémea do Make Israel Great, talvez sem o Again,
mas definitivamente com a sua bênção. Ao mesmo tempo, tenta lavar as mãos do desastre que se
avizinha assegurando que EUA apoiam a solução de dois Estados “se ambas as
partes estiverem de acordo”. Só sou eu a não entender bem o alcance deste
raciocínio?
Parece que foi em 1995 que se aprovou, no Congresso
norte-americano, uma lei para, efectivamente, mudar a embaixada dos EUA de
Telavive para Jerusalém, estipulando 31 de Maio de 1999 como a data definitiva
para essa mudança. E parece também que, desde 1995, todos os seis meses o
presidente americano em exercício assinava um documento em que suspendia essa
transferência. De modo que, aos
fervorosos adeptos e fãs de Donald Trump é fácil fazer o discurso do
assim-é-que-é, basta-de-hipocrisias, acabe-se-com-o-Islão,
os-muçulmanos-são-todos-terroristas e quem-não-está-comigo-está-contra-mim.
A urgência do politicamente correcto, a imposição por
decreto de formas de pensar, a higienização da sociedade dita ocidental, a
tentativa de reeducação em massa das populações, onde se pretende abolir os
sexos e suspender os géneros, impedir as meninas de gostarem de se vestir de
côr-de-rosa e de “quererem ser” princesas e os meninos de serem machos e usar
azul, eliminar os estatutos de pai e mãe substituindo-os por
gestantes-progenitores-cuidadores, criminalizar o mais inofensivo dos piropos e
mais um ror de absurdos, tem feito bastante pela crescente onda de insatisfação
das gentes, mesmos das mais pacíficas.
Enquanto continuarmos a confundir aceitar e respeitar a
diferença- a nossa e a do outro- com a obrigação de pensarmos e agirmos todos
da mesma forma, os “Trumps” deste mundo vão continuar a brotar como cogumelos,
a escalada de violência não vai parar de aumentar e o ódio acabará por fazer
mais vítimas.