“Um político deve ter a habilidade de
prever o que irá acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo mês e no
próximo ano. E a habilidade de explicar, depois, por que nada disso
aconteceu", Winston Churchill.
E, no entanto, há políticos a quem falta, não só a
habilidade para prever, como a competência para gerir e a decência para assumir
o que podem, seguramente, explicar: porque aconteceu, como aconteceu.
Em entrevista à TSF, António Anselmo, presidente da Câmara de Borba,
declarou-se orgulhoso enquanto português. Parece que o senhor presidente de câmara
nem sempre se orgulhou de tal e até já duvidou, noutras ocasiões, do Estado.
Ninguém diria. Mas não desta vez. E esta é a vez em que o Estado decidiu
avançar com as indemnizações às famílias das vítimas da previsível e fatídica
derrocada da estrada 255.
Há um tipo de pobreza que enoja. É a
pobreza indecente do tipo da do senhor António Anselmo que, para minha vergonha
minha, é presidente de uma Câmara do país a que chamo meu. O senhor que se
orgulha da atitude do Estado, é o mesmo que ignorou o alerta de perigo que a
estrada representava, mesmo depois de lhe terem explicado porquê. Segundo esta
notícia do Público, de acordo com a acta da assembleia municipal de 27 de
Dezembro de 2014, “António Anselmo deixou clara a intenção de organizar uma
reunião alargada”, sobre a situação que veio a revelar-se trágica. Mas a
reunião não chegou a ser convocada. O senhor Anselmo ainda não olhou
para os documentos. Di-lo "sem qualquer tipo de desculpa" e,
acrescento eu, sem qualquer tipo de vergonha. Com a mesma aviltante pobreza,
pensou que, se realmente “houvesse perigo”, a Direcção Regional da Economia do
Alentejo – responsável pelo memorando que alertava para isso – tê-lo-ia
“avisado novamente”. Tal-qual. Isto, apesar de, já em 2006, um estudo referir uma fracturação da jazida de mármore por
onde serpenteava, inocente, a EN255. O senhor presidente Anselmo parece que
também desconhece o estudo. Ninguém lho mostrou. E, orgulhoso que está, mantém
a decisão de não se demitir. Hoje, como há pouco mais de um mês, quando a sua
ignorância abriu a porta à desgraça que matou, estupidamente, cinco pessoas,
António Anselmo afirma que a demissão é “própria dos fracos”. E, fraco, é coisa
que o senhor Anselmo não é. Afinal, dos fracos não reza a história, e eu gostava
que a história rezasse deste, e não apagasse tragédias como as de Borba. Para
que, se não o respeito, pelo menos o pudor e a decência, obrigassem os
políticos, entre eles, os presidentes de câmara, a desempenhar os seus cargos
com lisura.
Infelizmente, ao contrário do senhor Anselmo, não estou
tão orgulhosa deste estado português. Mas, era capaz de me
orgulhar, se os Anselmos da vida política portuguesa desaparecessem do mapa,
como por escandalosa incúria fizeram com a estrada de Borba.