Aos três efes que alguns dizem
caracterizar Portugal, estamos prestes a colar um quarto; o de falência,
que também pode ser de fraude. E se há quem se confunda quanto a quem
realmente terá promovido a designação dos três primeiros, este, entra-nos pelos
olhos, rompe-nos pela casa adentro, deslumbrados, enquanto escancaramos a porta
ao popular e entusiástico empreendedor Paddy Cosgrave mais os seus apóstolos e
aos turistas carinhosos, ruidosos, que nos escolhem como o melhor destino de
mundo, pelo segundo ano consecutivo. Ao mesmo tempo que revolucionárias startups enlouquecem
e brotam como cogumelos pró-milionários, bilionários, alucinados e alucinantes,
e que hordas de turistas descobrem, finalmente, onde fica Portugal, o país
apodrece, por dentro, às mãos ávidas, promíscuas e incompetentes dos muitos
que, em não nos governando, indecentemente, muitas vezes, se governam em
banquete.
Os turistas e os empreendedores não terão, ainda,
percebido o logro. O de um país maravilhoso por fora e miseravelmente
abandonado por dentro. No país que admiram, não se adivinham estradas engolidas
pelas assombrosas pedreiras, magníficas, que visitam nas férias de verão, como
não se imaginam caminhos calcinados e vidas devoradas pela pavorosa gula das
chamas insubmissas, que incendeiam, grotescas, estradas nacionais
onde não abundam transportes de recreio; não se suspeita Tancos, nem
paióis, nem comparações jocosas com sagas radiofónicas; não há, no país da
moda, helicópteros de socorro desaparecidos por quase duas horas, apenas
aqueles que se usam, eventualmente, pontualmente chiques e arrojadamente
elegantes, para experiências panorâmicas. Perdidos, maravilham-se. E nós com
eles. “Eu consigo encontrar uma trotinete por
GPS nas ruas de Lisboa e não consigo encontrar um helicóptero do INEM”, eis a nossa maravilhosa e imbatível modernidade.
Tal como em casa onde não há pão, todos ralham e
ninguém tem razão – provérbio mais ou menos inócuo até PAN ou PETA, em
contrário – quando todos, em (in)consciência, nos falham de forma
estrondosa e leviana, atacam-se com raiva e sem decoro, prosseguindo a injúria,
ministros e sindicatos, civis e militares, protecção civil e bombeiros…não há
quem se não apresse em acusar, em deturpar, em concluir.
Embrutecido o povo, desvalorizadas as tragédias,
insultados os mortos, há uma parte do país que se esgota em agonia.