terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O país da Websummit, do melhor destino turístico e da falência do Estado

Aos três efes que alguns dizem caracterizar Portugal, estamos prestes a colar um quarto; o de falência, que também pode ser de fraude. E se há quem se confunda quanto a quem realmente terá promovido a designação dos três primeiros, este, entra-nos pelos olhos, rompe-nos pela casa adentro, deslumbrados, enquanto escancaramos a porta ao popular e entusiástico empreendedor Paddy Cosgrave mais os seus apóstolos e aos turistas carinhosos, ruidosos, que nos escolhem como o melhor destino de mundo, pelo segundo ano consecutivo. Ao mesmo tempo que revolucionárias startups enlouquecem e brotam como cogumelos pró-milionários, bilionários, alucinados e alucinantes, e que hordas de turistas descobrem, finalmente, onde fica Portugal, o país apodrece, por dentro, às mãos ávidas, promíscuas e incompetentes dos muitos que, em não nos governando, indecentemente, muitas vezes, se governam em banquete.

Os turistas e os empreendedores não terão, ainda, percebido o logro. O de um país maravilhoso por fora e miseravelmente abandonado por dentro. No país que admiram, não se adivinham estradas engolidas pelas assombrosas pedreiras, magníficas, que visitam nas férias de verão, como não se imaginam caminhos calcinados e vidas devoradas pela pavorosa gula das chamas insubmissas, que incendeiam, grotescas, estradas nacionais onde não abundam transportes de recreio; não se suspeita Tancos, nem paióis, nem comparações jocosas com sagas radiofónicas; não há, no país da moda, helicópteros de socorro desaparecidos por quase duas horas, apenas aqueles que se usam, eventualmente, pontualmente chiques e arrojadamente elegantes, para experiências panorâmicas. Perdidos, maravilham-se. E nós com eles. “Eu consigo encontrar uma trotinete por GPS nas ruas de Lisboa e não consigo encontrar um helicóptero do INEM”, eis a nossa maravilhosa e imbatível modernidade.

Tal como em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão – provérbio mais ou menos inócuo até PAN ou PETA, em contrário – quando todos, em (in)consciência, nos falham de forma estrondosa e leviana, atacam-se com raiva e sem decoro, prosseguindo a injúria, ministros e sindicatos, civis e militares, protecção civil e bombeiros…não há quem se não apresse em acusar, em deturpar, em concluir.

Embrutecido o povo, desvalorizadas as tragédias, insultados os mortos, há uma parte do país que se esgota em agonia.