quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

"Stupid You!"

Há uns anos, a propósito da discussão ainda não esgotada (infelizmente) sobre a igualdade entre homens e mulheres, nomeadamente, no mercado de trabalho, alguém dizia que só teríamos igualdade quando a uma mulher incompetente fosse permitido ocupar um lugar de topo numa empresa.

Na altura, lembro-me de achar a afirmação um pouco forçada, mas percebi a intenção. Uma mulher tem sempre mais a provar. Talvez, menos hoje do que ontem e menos amanhã do que hoje, mas a realidade ainda é esta. Se, além disso, a mulher é atraente, terá de provar o dobro, até ser possível, como devia ser normal, avaliá-la exclusivamente pelo profissionalismo (ou falta dele, também), em vez de se lhe apreciar o ar saudável ou os trapinhos que veste. Continua a acontecer, não vale a pena negar, como não vale a pena choramingar. Contraria-se, com firmeza, não permitindo abusos, muito menos, retrocessos.

Apesar de todos os progressos que fomos fazendo, ainda há características que significam coisas diferentes, consoante se apliquem a um homem ou a uma mulher. E, isto, falando de países “privilegiados”, onde as mulheres não são diminuídas e humilhadas por decreto, como acontece por esse mundo fora, mas que não é ao que venho. Se, num homem, teimosia e arrogância, por exemplo, podem chegar a qualidades dignas de elogios - absolutamente imprescindíveis, até, em alguns casos - numa mulher serão quase sempre encaradas como defeitos. No limite, e em sentido contrário, um homem teimoso e arrogante pode até ser antipático; mas, uma mulher teimosa e arrogante facilmente atinge o estatuto de histérica. O insulto, ou a sua intenção, também tem género. Se um homem se torna impertinente ou arrogante para lá da conta, ninguém lhe atira com um “deves ter falta de sexo”, coisa que as mulheres impertinentes e arrogantes, à falta de “paciência” e de argumentos mais inteligentes, ouvem com relativa frequência e facilidade.

Ontem, Jeremy Corbyn irritou-se com Theresa May e, na tal impaciência que se permite a alguns homens, incapacitado de melhor argumento, verbalizou a raiva em surdina chamando stupid woman à sua primeira-ministra, a ultrajante deselegância implacavelmente denunciada pela magnífica dicção britânica, tornando ridiculamente cobarde a tentativa de substituir woman por people para justificar a inacreditável boçalidade.

Já há mulheres incompetentes a ocupar cargos de topo. Talvez, é certo, sejam dispensadas mais prontamente do que os homens. Daí que, é possível que alcancemos a plena igualdade entre homens e mulheres apenas e quando chegarmos à suprema igualdade na forma do insulto.