Há uns anos, a propósito da discussão ainda não esgotada
(infelizmente) sobre a igualdade entre homens e mulheres, nomeadamente, no
mercado de trabalho, alguém dizia que só teríamos igualdade quando a uma mulher
incompetente fosse permitido ocupar um lugar de topo numa empresa.
Na altura, lembro-me de achar a afirmação um pouco
forçada, mas percebi a intenção. Uma mulher tem sempre mais a provar. Talvez,
menos hoje do que ontem e menos amanhã do que hoje, mas a realidade ainda é
esta. Se, além disso, a mulher é atraente, terá de provar o dobro, até ser
possível, como devia ser normal, avaliá-la exclusivamente pelo profissionalismo
(ou falta dele, também), em vez de se lhe apreciar o ar saudável ou os
trapinhos que veste. Continua a acontecer, não vale a pena negar, como não vale
a pena choramingar. Contraria-se, com firmeza, não permitindo abusos, muito
menos, retrocessos.
Apesar de todos os progressos que fomos fazendo, ainda há
características que significam coisas diferentes, consoante se apliquem a um
homem ou a uma mulher. E, isto, falando de países “privilegiados”, onde as
mulheres não são diminuídas e humilhadas por decreto, como acontece por esse
mundo fora, mas que não é ao que venho. Se, num homem, teimosia e arrogância,
por exemplo, podem chegar a qualidades dignas de elogios - absolutamente
imprescindíveis, até, em alguns casos - numa mulher serão quase sempre
encaradas como defeitos. No limite, e em sentido contrário, um homem teimoso e
arrogante pode até ser antipático; mas, uma mulher teimosa e arrogante
facilmente atinge o estatuto de histérica. O insulto, ou a sua intenção, também
tem género. Se um homem se torna impertinente ou arrogante para
lá da conta, ninguém lhe atira com um “deves ter falta de sexo”, coisa que as
mulheres impertinentes e arrogantes, à falta de “paciência” e de
argumentos mais inteligentes, ouvem com relativa frequência e facilidade.
Ontem, Jeremy Corbyn irritou-se com Theresa May e,
na tal impaciência que se permite a alguns homens, incapacitado de melhor
argumento, verbalizou a raiva em surdina chamando stupid woman à sua
primeira-ministra, a ultrajante deselegância implacavelmente denunciada pela
magnífica dicção britânica, tornando ridiculamente cobarde a tentativa de
substituir woman por people para justificar a inacreditável
boçalidade.
Já há mulheres incompetentes a ocupar cargos de topo. Talvez, é certo, sejam dispensadas mais prontamente do que os homens. Daí que, é possível que alcancemos a plena igualdade entre homens e mulheres apenas e quando chegarmos à suprema igualdade na forma do insulto.