Há uns anos, um
amigo espanhol contou-me uma história divertidíssima. Supostamente real, mas,
tão boa, tão boa, que podia perfeitamente ser um chiste; nunca confirmei.
Já não recordo todos os detalhes, mas, lembro-me mais ou menos do essencial.
A cena passa-se num
convento, há uma espécie de anfiteatro, uma plateia constituída maioritariamente
por freiras e um orador homem. Discute-se qualquer coisa, já não sei bem o quê,
mas, uma das freiras da assistência mostra-se particularmente combativa e vai
fazendo perguntas, insistentemente, até deixar o orador à beira de um ataque de
nervos. A dada altura, o homem exaspera-se:
– Hermana, vosotras
las monjas no hacéis votos de castidade?
– Sí...
– Pues entonces callese
y no joda.
A história tem um
fim, mas já não me lembro do resto.
Praguejar é uma arte
que não assiste a todos. E não se pragueja em todas as línguas com a mesma elegância
e eloquência. Em espanhol pragueja-se divinamente. Pode-se traduzir para
português aquele curtíssimo diálogo, mas, não só nunca teria a mesma graça,
como soaria muitíssimo mais insultuoso.
Lembrei-me disto a
propósito (a despropósito, talvez, que a minha mente deambula por caminhos pouco claros demasiadas vezes) do congresso do Chega. Mais exactamente, a propósito da fotografia de
André Ventura ajoelhado e de mão esticada ao estilo que se adivinha. Aquilo só
não se leva mais a sério porque o homem tresanda a embuste por todos os poros. Trump,
Salvini, Le Pen e Abascal sempre se levam mais a sério. Ventura é uma imitação
de feira. Não incluo o Messias na comparação, porque o presidente brasileiro repugna-me
muitíssimo mais; nem o nosso André merece. Mesmo que me apeteça praguejar.
Não vi nada do congresso do Chega. Ouvi uns gritos entre zappings. A histeria passou das ideias aos actos públicos de comunicação, uma excitação atordoadora de decibéis como já não se (ou)via há muito, só comparável à intensidade do drama, talvez um dia uma bala acabe com a vida dele... Ah!, vivesse ainda William Shakespeare (e quase que "ainda", não era?) e teríamos um novo Macbeth ou assim. Com o devido despeito.