sábado, 8 de dezembro de 2018

Cobaias, Paparicos e Provérbios

Augusto Santos Silva fez saber, aos socialistas europeus, e não só, que “não podemos ser ambíguos para com regimes autoritários, venham da direita ou esquerda, sejam da Europa, América Latina, África ou asiáticos”. Isto, depois de quase termos prestado vassalagem a Xi Jinping, incluindo na nova e útil modalidade de cobaias entusiasticamente oferecidas numa espécie de dote.

Fiquei um pouco confusa. Ou o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros não sabe bem onde fica a China, ou desconhece os meandros do tipo de regime que por lá se pratica. Possivelmente, andou à conversa com Bernardino Soares, que percebe imenso de regimes políticos, principalmente, asiáticos. Parece que, por lá, as democracias possuem algumas peculiaridades que escapam aos mais incautos.

 

Donald Trump voltou a exibir o seu delicado encanto e apelidou de “dumb as a rock”, em português erudito, burro como um calhau, o seu ex-secretário de Estado. Parece que o senhor, que não Trump, claro, afirmou, numa entrevista, que o Presidente lhe terá pedido para fazer umas coisas que violavam a lei. Ninguém diria. Trump não gostou e, como é hábito quando algo não lhe corre de feição, partiu para o insulto pessoal. Via tuites, que, tal como no futebol, em equipa que ganha não se mexe. Além de burro,  Rex Tillerson também seria um preguiçoso dos diabos, pelo que, Trump deixou claro que Mike Pompeo está a fazer um great job e, além disso, é bastante mais prestável e inteligente que o seu predecessor. Será, pelo menos, pelo tempo que Pompeo se mantiver útil e obediente no cargo; se vier a incompatibilizar-se com o endiabrado Donald, terá direito aos mesmíssimos nada alternativos mimos com que o Presidente agracia todos os seus ex-colaboradores, salvo aqueles que mantêm, mesmo à posteriori, o ritual do beija-mão. Quem não está com Trump, está contra Trump. E Trump não perdoa, não esquece e não conhece misericórdia.

           

Depois das linguagens inclusivas nas suas variantes mais bizarras, de que, por cá, o “camaradas e camarados” de um desastrado Pedro Filipe Soares foi o último golpe, eis que pretendem agora corromper-nos os sábios provérbios dos nossos antepassados. Já não vamos poder matar dois coelhos de uma cajadada, nem pegar o touro pelos cornos, porque, para um punhado de iluminados, há um risco pronunciado e não absurdo de podermos vir a confundir a linguagem metafórica com malévolas acções reais, levadas à prática num acto de demência anunciada e colectiva. Sair pela calada da noite, atirando paus aos indefesos gatos, embalados pela melodia que teima em não sair do ouvido; esmagar, sadicamente, um pássaro na mão, livrando-nos da tentação de arrojados actos. Se não por isso, por respeito aos bichos...e os loucos somos nós.

Por higiénica e escorreita prudência, nem beijinhos aos avós, nem princesas a arfar diante de sapos, não vão virar príncipes, nem géneros atirados biologicamente, nem músicas infantis mal-intencionadas, nem ditos populares animalescos. Tudo a bem da harmonia dos povos que brilha em amarelo vivo nas imagens que, há quatro semanas, nos enchem os écrans de televisão, enquanto as gentes, fartas de desgovernos, se agitam contra estorvos um tudo ou nada mais comezinhos.