Augusto Santos Silva fez saber, aos socialistas europeus,
e não só, que “não podemos ser ambíguos para com regimes autoritários,
venham da direita ou esquerda, sejam da Europa, América Latina, África ou
asiáticos”. Isto, depois de quase termos prestado vassalagem a Xi Jinping,
incluindo na nova e útil modalidade de cobaias entusiasticamente
oferecidas numa espécie de dote.
Fiquei um pouco confusa. Ou o nosso ministro dos Negócios
Estrangeiros não sabe bem onde fica a China, ou desconhece os meandros do tipo
de regime que por lá se pratica. Possivelmente, andou à conversa com Bernardino
Soares, que percebe imenso de regimes políticos, principalmente, asiáticos.
Parece que, por lá, as democracias possuem algumas peculiaridades que escapam
aos mais incautos.
Donald Trump voltou a exibir o seu delicado encanto e
apelidou de “dumb as a rock”, em português erudito, burro
como um calhau, o seu ex-secretário de Estado. Parece que o senhor, que não
Trump, claro, afirmou, numa entrevista, que o Presidente lhe terá pedido para
fazer umas coisas que violavam a lei. Ninguém diria. Trump não gostou e, como é
hábito quando algo não lhe corre de feição, partiu para o insulto pessoal.
Via tuites, que, tal como no futebol, em equipa que ganha não se
mexe. Além de burro, Rex Tillerson também seria um preguiçoso dos diabos,
pelo que, Trump deixou claro que Mike Pompeo está a fazer um great job e,
além disso, é bastante mais prestável e inteligente que o seu predecessor.
Será, pelo menos, pelo tempo que Pompeo se mantiver útil e obediente no cargo;
se vier a incompatibilizar-se com o endiabrado Donald, terá direito aos
mesmíssimos nada alternativos mimos com que o Presidente agracia todos os seus
ex-colaboradores, salvo aqueles que mantêm, mesmo à posteriori, o ritual do
beija-mão. Quem não está com Trump, está contra Trump. E Trump não perdoa, não
esquece e não conhece misericórdia.
Depois das linguagens inclusivas nas suas variantes mais
bizarras, de que, por cá, o “camaradas e camarados” de um
desastrado Pedro Filipe Soares foi o último golpe, eis que pretendem agora
corromper-nos os sábios provérbios dos nossos antepassados. Já não vamos
poder matar dois coelhos de uma cajadada, nem pegar o touro
pelos cornos, porque, para um punhado de iluminados, há um risco
pronunciado e não absurdo de podermos vir a confundir a linguagem metafórica
com malévolas acções reais, levadas à prática num acto de demência anunciada e
colectiva. Sair pela calada da noite, atirando paus aos indefesos gatos,
embalados pela melodia que teima em não sair do ouvido; esmagar, sadicamente,
um pássaro na mão, livrando-nos da tentação de arrojados actos. Se não por
isso, por respeito aos bichos...e os loucos somos nós.
Por higiénica e escorreita prudência, nem beijinhos aos avós, nem princesas a arfar diante de sapos, não vão virar príncipes, nem géneros atirados biologicamente, nem músicas infantis mal-intencionadas, nem ditos populares animalescos. Tudo a bem da harmonia dos povos que brilha em amarelo vivo nas imagens que, há quatro semanas, nos enchem os écrans de televisão, enquanto as gentes, fartas de desgovernos, se agitam contra estorvos um tudo ou nada mais comezinhos.