terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Quanto custa apaziguar uma "cólera justa"?

É de um pessimismo alarmante pensar numa séria ameaça à paz na Europa?

Domingo à tarde, entre amigos, discutíamos a relevância desta questão. Há ou não motivos para nos preocuparmos, seriamente, com o rumo dos acontecimentos mais ou menos recentes, entre os quais, a insurreição dos coletes amarelos, que tomaram de assalto as ruas de Paris?

Emmanuel Macron perdeu o povo. É o que parece; e parece-me, também, irreversível. Diz-se que o discurso, já de si tardio, não convenceu, o que não espanta. De repente, o grito de revolta convergiu para uma única exigência que engorda a cada sábado: a demissão do Presidente francês, arremessado como símbolo da classe rica e das visceralmente odiadas elites. Não parece fácil de contrariar e, obviamente, a oposição não ajuda; ao invés, acicata. A questão é, e se a Macron não restar, como se perfila, outra alternativa que não a de se demitir? Porque, aparentemente, no próximo sábado haverá outra manifestação, que, como as anteriores, se avizinha violenta, a cólera justa projectada em estilhaços avulsos que tudo dizimam, implacavelmente, até aniquilar o alvo, em renovado caos e absoluto horror. Serão 100 euros e mais alguns trocos, ou migalhas, suficientes para comprar a paz social? Isto, admitindo que as medidas anunciadas passam, efectivamente, à prática, com consequências na gestão das expectativas dessa “France périphérique”, como lhe chamaram ou chamam, a França da periferia, em oposição à França sofisticada e rica das grandes cidades. Lá, como cá, os mesmos cansaram-se de acudir a todas as crises, tantas vezes recorrentes. Cá, ao contrário de lá, ainda vamos aguentando. Até quando, não sabemos. De momento, ouvi dizer que se vestem coletes, amarelos, a 21 de Dezembro.

Se Macron cair, novas eleições em França talvez dêem a almejada vitória à temida - inevitável? - Marine Le Pen e ao seu renovado União Nacional. Com o Vox a engrossar a voz na vizinha Andaluzia, o cerco aperta-se. O CHEGA chegará para nos sacudir e assustar, ou já faz estragos silenciosos de que só daremos conta demasiado tarde? Ou, é ao contrário e a salvação das nações e dos povos subjaz, inevitavelmente, na emergência revigorante dos regimes nacionalistas e autoritários, eventualmente, ditatoriais?

 

P.S. Armando Vara foi à TVi insinuar que os últimos dez/nove anos da sua vida talvez tivessem sido diferentes se tivesse ajudado o juiz Carlos Alexandre. Talvez, até, não só a vida dele...

Com certeza, não serei só eu a ter uma opinião terrível sobre o significado disto.