É de um pessimismo alarmante pensar numa séria ameaça à
paz na Europa?
Domingo à tarde, entre amigos, discutíamos a relevância
desta questão. Há ou não motivos para nos preocuparmos, seriamente, com o rumo
dos acontecimentos mais ou menos recentes, entre os quais, a insurreição
dos coletes amarelos, que tomaram de assalto as ruas de Paris?
Emmanuel Macron perdeu o povo. É o que parece; e
parece-me, também, irreversível. Diz-se que o discurso, já de si tardio, não
convenceu, o que não espanta. De repente, o grito de revolta convergiu para uma
única exigência que engorda a cada sábado: a demissão do Presidente francês,
arremessado como símbolo da classe rica e das visceralmente odiadas elites. Não
parece fácil de contrariar e, obviamente, a oposição não ajuda; ao invés,
acicata. A questão é, e se a Macron não restar, como se perfila, outra
alternativa que não a de se demitir? Porque, aparentemente, no próximo sábado
haverá outra manifestação, que, como as anteriores, se avizinha violenta, a
cólera justa projectada em estilhaços avulsos que tudo dizimam,
implacavelmente, até aniquilar o alvo, em renovado caos e absoluto horror.
Serão 100 euros e mais alguns trocos, ou migalhas, suficientes para
comprar a paz social? Isto, admitindo que as medidas anunciadas passam,
efectivamente, à prática, com consequências na gestão das expectativas dessa “France
périphérique”, como lhe chamaram ou chamam, a França da periferia,
em oposição à França sofisticada e rica das grandes cidades. Lá, como cá, os
mesmos cansaram-se de acudir a todas as crises, tantas vezes recorrentes.
Cá, ao contrário de lá, ainda vamos aguentando. Até quando, não sabemos. De
momento, ouvi dizer que se vestem coletes, amarelos, a 21 de Dezembro.
Se Macron cair, novas eleições em França talvez dêem a
almejada vitória à temida - inevitável? - Marine Le Pen e ao seu renovado União
Nacional. Com o Vox a engrossar a voz na vizinha Andaluzia, o cerco aperta-se.
O CHEGA chegará para nos sacudir e assustar, ou já faz estragos silenciosos
de que só daremos conta demasiado tarde? Ou, é ao contrário e a salvação das
nações e dos povos subjaz, inevitavelmente, na emergência revigorante dos
regimes nacionalistas e autoritários, eventualmente, ditatoriais?
P.S. Armando Vara foi à TVi insinuar que os últimos
dez/nove anos da sua vida talvez tivessem sido diferentes se tivesse
ajudado o juiz Carlos Alexandre. Talvez, até, não só a vida dele...
Com certeza, não serei só eu a ter uma opinião terrível
sobre o significado disto.