Diz-se que somos um país de invejosos. Parece que
invejamos quem tem dinheiro, poder e aquilo a que se chama estatuto social.
Há muito que suspeito que a vil inveja que nos assalta é
capaz de resultar de casos como os relatados aqui, aqui e aqui.
Não gostamos de nos comparar, mas talvez seja bom lembrar
outras histórias, de desencantar.
No princípio são os banqueiros. Parece que existem
quarenta e sete banqueiros presos por causa da crise financeira de 2008. Metade
são da Islândia. Que tem menos de 350 mil habitantes, mas deve ter muitos
bancos. De momento, há um preso famoso e não consta que seja islândes. Bernard Madoff
é americano e, em seis meses, Bernie, para os amigos, foi preso,
acusado e julgado. Nos EUA de antes, pelo menos. É verdade que o seu famoso
esquema Ponzi ludibriou muita gente, autoridades incluídas,
durante mais de duas décadas, mas, o homem acabou condenado a 150 anos de
prisão. Madoff terá confessado o esquema aos filhos que o denunciaram. O que
terá passado pela cabeça daquelas almas? E, em que consistia o esquema?
No "pagamento de lucros anormalmente altos a investidores à custa
de investidores que chegavam posteriormente, em vez de receita gerada por
qualquer negócio real" (aqui). Jura! Qualquer semelhança com alguns banqueiros
da nossa praça é capaz de ficar por aqui. O mais próximo da prisão que algum
deles, desses, esteve foi em preventiva. Um houve que, dizem, foi vaiado num
restaurante chique da linha, mas outros há que continuam a ser eleitos e
adorados. Prisão, prisão, entre recursos, apensos, férias judiciais e outros
que tais, talvez quando o Bernie acabar de cumprir os tais 150 anos. Ah!, se a
Madonna calha em descobrir mais cedo os encantos de viver em Lisboa...Talvez a
vida do Bernie fosse diferente, mesmo sem conhecer o Carlos Alexandre.
Depois, são os gestores. De topo. Aqueles que pagamos a
peso de ouro, não vão esses ilustres génios fugir para o estrangeiro e deixar o
país ao deus-dará. Sou de opinião que, se alguém os quiser levar, pagar-lhes o
que por cá recebem para fazer o que por cá fazem, é deixá-los ir. Poupamos,
nós, dinheiro e, eles poupam-se - e poupam-nos - ao ridículo dos ataques de
amnésia em comissões de inquérito, onde ainda são obrigados a ouvir a Mariana
Mortágua a chamar-lhes amadores...é bem merecido.
Entretanto, discute-se o valor do ordenado mínimo, que
continua a ser miserável e há, em Portugal, perto de meio milhão de
pobres. "Um país rico não pode ter trabalhadores pobres",
e eu acho que o mesmo se aplicaria às empresas.