O
Centro de Arte Manuel de Brito, em Lisboa, mostra, até ao final do ano, uma
pequena colecção da obra de Ruy Leitão, de quem eu desconhecia tudo, até a sua
curta existência. Foram duas ou três frases nas descrições que li noutras poucas
notícias que o acaso trouxe ao meu encontro que me levaram lá. Aproveitei e
levei o meu filho: ainda resiste, sem ressaca, a algumas horas alheado disso a
que chamamos dispositivos móveis, em cima de um programa qualquer coisa
cultural na companhia da mãe – é um estado de graça, breve, que já dura mais do
que eu imaginava e que não posso e não quero desperdiçar.
A
entrada é gratuita, saía um homem quando chegámos, e, de resto, não havia mais
visitantes; éramos só nós. Pudemos demorar-nos sobre todos os traços, sobre
todas as cores, a vida, a morte, o “mundo às avessas”, concordamos sobre uns
rabiscos, discordamos sobre outros, perdemos o tempo como o tempo merece ser
perdido. E digo rabiscos com a devida vénia, porque foi um encontro feliz. Não
sei fazer crítica sobre pintura, não sei fazer crítica sobre
quase nada, ou gosto ou não gosto, nem sei se Ruy Leitão cabe na minha
definição de pintor: o que fez, surge-me mais como desenho e menos como pintura,
mas gostei bastante, gostámos bastante, e, ficámos ali a saber, Paula Rego disse dele que era um artista único – deve bastar.