quarta-feira, 12 de julho de 2023

O Centro de Arte Manuel de Brito, em Lisboa, mostra, até ao final do ano, uma pequena colecção da obra de Ruy Leitão, de quem eu desconhecia tudo, até a sua curta existência. Foram duas ou três frases nas descrições que li noutras poucas notícias que o acaso trouxe ao meu encontro que me levaram lá. Aproveitei e levei o meu filho: ainda resiste, sem ressaca, a algumas horas alheado disso a que chamamos dispositivos móveis, em cima de um programa qualquer coisa cultural na companhia da mãe – é um estado de graça, breve, que já dura mais do que eu imaginava e que não posso e não quero desperdiçar.

A entrada é gratuita, saía um homem quando chegámos, e, de resto, não havia mais visitantes; éramos só nós. Pudemos demorar-nos sobre todos os traços, sobre todas as cores, a vida, a morte, o “mundo às avessas”, concordamos sobre uns rabiscos, discordamos sobre outros, perdemos o tempo como o tempo merece ser perdido. E digo rabiscos com a devida vénia, porque foi um encontro feliz. Não sei fazer crítica sobre pintura, não sei fazer crítica sobre quase nada, ou gosto ou não gosto, nem sei se Ruy Leitão cabe na minha definição de pintor: o que fez, surge-me mais como desenho e menos como pintura, mas gostei bastante, gostámos bastante, e, ficámos ali a saber, Paula Rego disse dele que era um artista único – deve bastar.