segunda-feira, 7 de maio de 2018

"Me engana que eu gosto..."

“Me engana que eu gosto”, ou, na versão portuguesa e de autoria de João Miguel Tavares, “O Silêncio dos Indecentes”; que deixou de ser silêncio para passar à batata quente de que todos se querem livrar porque, já se percebeu, vai rebentar na mão de muitos. E a indecência mantém-se. Numa alucinação precipitada de acontecimentos e críticas que desembocaram com a desfiliação de José Sócrates (essa figura única e irrepetível) do principal partido do Governo, eis que começam a sacudir-se muitas águas de muitos capotes. Agora, foi a vez de Fernanda Câncio. Que José Sócrates assim, que José Sócrates assado, coitadinhos de todos os que acreditámos nele que ainda acabamos todos a ser tomados por cúmplices. E nós, os outros, tomados por parvos. Outra vez! Os mesmos que, até agora, repetiam à exaustão, para defender o indefensável, que todos são inocentes até prova em contrário e que a justiça se faz nos tribunais, apressam-se na azáfama de se distanciarem o mais longe e o mais rápido possível da tempestade que aí vem. O melhor truque é fingir que não se percebeu nada de nada. Sócrates, esse mestre do engano e da dissimulação, é que a todos ludibriou, não só o país, como o partido, os amigos, as namoradas e por aí fora. Parece que, afinal, o “mau jornalismo” da SIC afectou mais gente do que se supunha. Não bradaram, tantos comentadores iluminados e sapientes, que aquelas imagens não aportavam nada de novo à investigação e contribuíam apenas para a tabloidização “pornográfica” da justiça? Pois é. Às vezes é preciso coragem para tomar uma decisão, ainda que (eventualmente) má, porque pior do que decidir mal é não decidir coisa nenhuma e fingir que não vemos o que se passa à nossa volta. Os ratos começam a abandonar o navio e a coisa não vai ser bonita de ver…