terça-feira, 17 de abril de 2018

006, Licença Para Gastar

Todos gostávamos de ter um amigo como Santos Silva! Esse fantástico e altruísta empresário bem-sucedido, homem “de posses”, pronto a abrir os cordões à bolsa ainda o amigo vai no primeiro “olha…ah…”!

Acompanhar as reportagens da SIC acerca da Operação Marquês tem sido uma espécie de tragicomédia, cá em casa. Alterou-nos a rotina dos últimos dois dias, coagindo-nos, inclusive, a descurar a sagrada hora de dormir do nosso filho. Mea culpa! Mas, até a ele, as justificações tresloucadas de Sócrates para a desmesurada e despropositada ajuda financeira do amigo Silva têm arrancado gargalhadas! É que não é preciso mais, de facto, do que a inteligência e perspicácia médias de uma criança de 11 anos, para perceber que, na vida real, não há amigos assim. Na vida real, não há “amigos” a quem possamos pedir para nos pagarem luxuosas contas correntes ao ritmo de um não-queres-passar-cá-um-bocadinho-e-trazer-aquilo-que-sabes-que-eu-gosto. Para um homem com “dificuldades económicas”, Sócrates tem, ou teve, um nível de vida de fazer inveja a muita classe média-alta por esse país fora.     

As explicações, ora embrulhadas, ora exaltadas, do ex-primeiro-ministro são de um descaramento formidável. O “Zezito” quer convencer-nos a todos que o Silva, simplesmente por desinteressada amizade e pura preocupação com o bem-estar alheio, não só estava sempre disponível para lhe emprestar qualquer quantia de dinheiro, como ainda se dispunha a acatar sugestões sobre investimentos vários, desde a compra de propriedades a obras de remodelação de exclusivos apartamentos parisienses! Mais ainda, a excelsa amizade permitia que essas sugestões chegassem via uma irritada ex-mulher do primeiro, sem que a esposa do segundo tivesse qualquer opinião sobre o assunto; eram “investimentos” do marido.

O mais assustador é que Sócrates e os seus dois magníficos advogados aparentam ter razão num ponto: não há provas-provas- dessas para lá da convicção sensata- que sustentem que, efectivamente, a famosa conta 006 seja dele e não do abnegado Carlos Santos Silva. O desassombrado trio Sócrates-Delille-Araújo socorre-se da falta de “fundamento em factos e em provas” para acusar todos os que não estão com o nosso ex-primeiro de estarem contra ele. Enquanto isso, num genial e irónico golpe de mestre, José Sócrates lá vai acusando de “manha” (diz o roto ao nú!) os procuradores, com muitos e eloquentes “oh, pá” à mistura em discursos mirabolantes que são um verdadeiro insulto à inteligência e paciência dos demais. Mas, não se enganem!, não há nada de mais perigoso e temível do que um  animal feroz ferido…