A estrada ruiu entre Borba e Vila Viçosa e, na ruína, arrastou uma
retroescavadora e dois automóveis e a morte de, pelo menos e de momento, duas
pessoas. Também há desaparecidos, feridos, possivelmente, mais mortes e, como
habitualmente, todas as críticas a uma desgraça anunciada. Começa, mais uma
vez, o circo de especialistas e contra-especialistas que, muitas vezes, na
posse das mesmíssimas informações, conseguem a extraordinária proeza de tirar
conclusões completamente antagónicas. Eu sei que é possível. Na última reunião
de condomínio a que assisti, e também a propósito de umas obras, uma advogada
dizia a outro condómino presente: “não preciso de ver (um parecer jurídico que
aquele lhe tentava mostrar); amanhã, podia entregar-lhe outro a dizer
exactamente o contrário”. Incrível, não é? Se há testemunhos da fragilidade do
estado da estrada, também há quem garanta a sua perfeita segurança.
Como se viu.
Depois da tragédia, das mortes estúpidas,
banais, insignificantes, uns senhores mais ou menos doutos e mais ou menos
engravatados vêm (mais hão-de vir) tentar explicar o inexplicável; outros
tantos, fazer o jogo do eu avisei. Toda a gente via e sabia e
ninguém quis ver o suficiente e nem saber de mais nada. Morre-se tantas vezes
por incúria, por ignorância, por incompetência, por despachos assinados das
nove às dezasseis, por falta das verbas que parecem nunca falhar na hora de
renovar frotas e gabinetes dos representantes da nação espoliada. Não será
comparável, mas é nos detalhes que ele costuma estar. Os infortúnios mais ou
menos previsíveis, principalmente os alheios, podem sempre esperar por dias
melhores. No caso deste, a contagem ia, pelo menos, em 4 anos. Teria ou não sido evitável este acidente? Vamos ter o
direito a conhecer alguma verdade, a pedir responsabilidades, se as houver?
Nos próximos dias, abrir-se-ão inquéritos,
pedir-se-ão relatórios e exigir-se-ão, eventualmente, demissões. Ou não. Há
desgraças mais merecedoras do que outras. É provável que o nosso popular
Presidente venha reconfortar os familiares das vítimas, exigir respostas e
prometer justiça doa a quem doer. Dói sempre aos mesmos e
nunca ninguém tem culpa.
Há cerca de oito meses, a revista Visão denunciava uma situação de urgência na execução de trabalhos de manutenção da Ponte 25 de Abril, cuja segurança podia estar em causa. O LNEC avisava o Governo que, na ausência de obras, poderia vir ser necessário restringir-se o tráfego de pesados e de comboios de mercadorias, na ponte. O mesmo LNEC veio, depois do alarme que a notícia gerou, sossegar-nos, não era bem, bem uma questão de risco, de colapso iminente. Era uma necessidade um pouco mais que poucochinha. Pelo sim, pelo não, foi anunciada, na altura, uma verba de 18 milhões de euros para proceder a obras urgentes. Que não começaram ainda. Vejamos se a urgência, que tanto se apregoa e sempre se atrasa, chega a tempo de prevenir outra calamidade.