O meu interesse por futebol é praticamente nulo. Com
excepção dos jogos da selecção nacional – quando me deixo animar por uma
espécie de patriotismo saloio, muito anterior às auspiciosas bandeirinhas do
Scolari – não tenho especial apreço pelo espectáculo e, seguramente, não
entendo o delírio das massas associativas e dos adeptos, embora tenha ido
muitas vezes, com o meu pai (sócio cativo do FCP durante muitos anos) e a minha
irmã, ao antigo estádio das Antas; era no tempo em que ainda podíamos
frequentar estádios de futebol sem medo de lá deixar parte da nossa integridade
física e moral.
Se interesse tenho pouco, conhecimentos futebolísticos
tenho nenhuns. Nunca percebi bem o que é um fora de jogo e acho que sei reconhecer
um golo porque a baliza é grande e até para a ignorância há um certo limite.
Mas, o caso Sporting-Alcochete-Bruno-de-Carvalho-e-os-seus-fantoches
interessa-me porque sai um pouco da esfera do futebol. É o caso de um
narcisista fanfarrão e lunático, com tiques de autoritarismo rasteiro e pífio,
aspirante a Deus, que usou e atiçou um grupo de arruaceiros para – mantendo as
suas mãos limpas como Pilatos – impor um correctivo exemplar a um grupo de
meninos mimados e desagradecidos que não adoravam o mestre, como lhes era
devido.
Apesar de todas as tentativas, algumas ridículas e outras
cobardes, para fingir que não tinha qualquer responsabilidade nos actos de
inacreditável violência gratuita e aparente retaliação (por maus resultados do
clube?) que tiveram lugar na Academia de Alcochete, as autoridades parecem
estar na posse de provas que podem fundamentar a culpabilidade de Bruno de
Carvalho enquanto mandante do ataque canalha.
Ao contrário de novas e sombrias agendas, as palavras
são, de facto, poderosas e – do futebol à política – há, para muitos e
perigosos protagonistas, uma retórica minuciosamente pensada e usada para
promover o ódio, acicatar as hostes e provocar estragos selectivos, que venham
a servir de meios para atingir ambiciosos fins.
As implicações da detenção de Bruno de Carvalho no mundo do futebol e das finanças do clube a que presidiu interessa-me pouco ou nada. Importam-me, sim, as consequências que isso possa vir a ter como contributo para limitar uma forma emergente de reinar pelo medo e pela intimidação. Se não o permitirmos no futebol, talvez possamos ter a esperança de não o virmos a permitir noutras áreas muito mais importantes para a sobrevivência da nossa democracia.