A aia entrou nos aposentos e fez uma ligeira vénia.
– Mylady, a carruagem
está pronta. O senhor vosso pai aguarda-vos.
Levantou ligeira e discretamente a cabeça
para admirar a noiva. Estava linda. A mulher mais bela que alguma vez se havia
visto nas cortes da época. Sem dúvida, a mulher mais bela que ela alguma vez
conhecera.
Olhou-se ao espelho, uma última vez,
demoradamente.
Vestia um traje riquíssimo, sinal da
abastada condição social a que, por direito, pertencia. O vestido, branco como
a neve, era bordado com delicados fios de ouro que alastravam pela mais fina
seda, desenhando ricas e impetuosas pregas até à orla do decote quadrado, para
aí pousarem, acariciando o colo macio e leitoso, prenúncio de desgraça, já, de
tantos nobres. Uma faixa de brocado dourado envolvia-lhe a cintura estreita,
como o abraço delicado de um amante. No cabelo, sedoso e doirado como uma
luminosa manhã de primavera, repartido por duas magníficas tranças, repousava
um fino diadema cravejado das mais graciosas, raras e sumptuosas pedras
preciosas. O brilho das jóias iluminava a face da noiva tonando-a ainda mais
angelical.
Estava linda, sim. Era quase afortunada.
Vestira-se ricamente e a rigor para se unir a um
homem que não conhecia, cumprindo uma promessa de seu pai. Um acordo político
com vista a unir duas partes poderosas do reino, em que o único papel que lhe
cabia era o que aquele majestoso espelho lhe devolvia. De momento.