quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Indignações Selectivas

 Também tenho. Às vezes. De momento, rezam assim:

1.    Olavo Bilac. Nunca gostei. Do músico, entenda-se, ou cantor, ou lá o que seja, nunca me convenceu aquela voz falsamente rouca, mesmo que o próprio garanta que não e eu até acredite. Só há um homem capaz de (me) (en)cantar sem saber cantar, é o Pedro Abrunhosa; e isto falando só de cantar, não sei se já me tinha feito entender.

De modo que, o que me indignou no arrefecido e requentado caso Olavo Bilac não foi que tivesse (en)cantado para (o) André Ventura, com direito à selfie e ao cachet. Foi o desgraçado post que escreveu depois. É um daqueles casos em que é pior a emenda que o soneto, e acho que a música nem era essa.

2.      A menina da manifestação anti-anti-racismo. Outra vez o CHEGA por lá, mas em modo pior. Nem é tanto a presença e o cartaz. É o cartaz feito vestido, enfiado na menina, e a mãe a referir-se à filha como sendo de cor, antes ou depois, já não sei bem, de os remorsos lhe terem provocado vómitos e outros estados de dor. Não sei se será caso para impedir a adopção em curso, mas, por mim, pode continuar em cuidados até, sei lá, deixar de votar naquilo. Pode ser que sejam poupadas, mãe e filha, a mais disparates. Não se tratou só disso, mas não foi a primeira vez e não será a última. Há pais que vêem os filhos como posse e prolongamento de si mesmos. Também me acontece. Evito que seja em público.

3.    A "parada Ku Klux Klan". Esta não é selectiva. Indigna-me por todos os lados que olhe. Só o retrato já é asqueroso. Cobardes, cobardes, cobardes. Mil vezes cobardes. O mês de Agosto será o mês do reerguer nacionalista”, “informe da nova ordem de avis”, “48 horas para deixarem o território português”? Seria cómico, se não fosse crime, em território português, dirigir ameaças, por escrito ou não, a outras pessoas.

 

Entretanto e a propósito de mais um vídeo, onde se vê um polícia australiano a imobilizar,de forma violenta, uma mulher. Claro que não tardou a piadola ("olha se fosse preta…") e a comparação igualmente jocosa com o que aconteceu a George Floyd, asfixiado, recorde-se (como se fosse preciso) sob o joelho de um polícia, mais de 8 minutos de agonia em directo, sem que o seu carrasco perdesse o sentido de po(s)se aprumada. E, portanto, neste caso e com os graciosos, não sinto qualquer tipo de indignação, nem selectiva, nem global. Nem toda a cretinice merece atenção e castigo; é só malcheirosa, como a água suja da sarjeta.