quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Entre Porto e Lisboa

"Vais gostar mais de Lisboa do que gostaste do Porto", diz o rapaz atrás de mim para a amiga canadiana. "Porque, do Porto, não tiveste tempo de conhecer o melhor, que são as pessoas", continua ele, nas minhas costas, enquanto subimos as escadas, em fila ordeira, como já convinha, ainda a pandemia não era pandemia. 

Sei que a amiga é canadiana porque, de vez em quando, gosto de me meter onde não sou chamada. Por exemplo, numa conversa boa e improvável em tempos de guerra. Apesar de todos os pesares, e etiquetas, e do distanciamento que uns dizem social e outros físico, há partes de mim que permanecem intactas mesmo sob a ameaça de catecismos e cataclismos. Não é que não cumpra regras. Cumpro e sem grande dor, desde que possa continuar a ser eu, sem mácula que me atormente.