segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Liberdade...



Escapa-me a noção de liberdade reclamada sobre a violência gratuita. O rastro que a população dita livre e civilizada vai largando a reboque desse “direito à resistência”: soa lindamente; principalmente quando o direito à resistência pode ser invocado e exercido em países sem tradição de envenenar, torturar, ou fazer desaparecer os que não estão com o rebanho

Com algumas excepções (poucas, muito poucas), a maioria dos argumentos que vou ouvindo de quem se decide pela não vacinação acenando com o trunfo da “liberdade individual” assemelha-se à “liberdade individual” daqueles fumadores convictos que, de forma prepotente e muito livre, fumam de rosto voltado para a mesa do lado, sem qualquer pudor em cuspir o fumo sobre o alheio. Ou daqueles donos de cães, livres, mas tão livres, que não vergam as costas para apanhar os cocós dos bichanos, o que seria, fica a liberdade individual ali mesmo, desde que o ali mesmo seja no caminho dos outros.

As imagens da “luta pela liberdade” que lavra pelas ruas de algumas cidades de países europeus não são só assustadoras, são vergonhosas.

Dito isto, não estou completamente certa quanto à linha que podemos ou não podemos cruzar, no que toca às medidas mais adequadas para minimizar a propagação da doença que nos tem (e mantém) reféns há quase dois anos. Isto também a propósito das “sanções” que alguns países começam a impor sobre os seus não vacinados por opção e direito, como a obrigação de suportar os custos de saúde, ou o confinamento individualizado. Tenho muitas dúvidas, e não é por achar comparável – coisa que não acho – com os casos de fumadores a braços com tratamentos contra o cancro, ou dos obesos que esperam anos por uma cirurgia de banda gástrica no SNS, como atiram alguns só para baralhar e esvaziar discussões sérias sobre o assunto. Mas rejeito veementemente uma liberdade forjada sobre a imbecilidade.