Ao contrário de Ivanka Trump (a próxima presidente dos
EUA?, a seguir ao pai), que veio a público dizer que “não há espaço para
racismo, supremacia branca e neonazis” (resta saber se estava a ser totalmente
sincera), o pai Donald está de baixo de fogo por não ter condenado, com a
veemência que lhe é habitual, a marcha fascista que teve lugar em
Charlottesville. Donald Trump, o homem sem papas na língua, que usa o twitter
como uma G3 em tempo de guerra, capaz de disparar furiosamente contra tudo e
contra todos os que se lhe opõem, o salvador da pátria que distribui insultos
como chocolates em tempo de Natal, não foi além de uma ligeira “condenação” ao
que chamou “demonstração de ódio, intolerância e violência de muitas partes, de
muitas partes”.
Donald Trump não condenou positiva e inequivocamente a
marcha destes inqualificáveis, grupos nazis, supremacistas brancos, activistas
da alt-right e afins, porque partilha de muitas das suas posições. Como dizia
hoje, no Público, Miguel Esteves Cardoso, “é possível que Donald
Trump não seja racista, mas é improvável.” É altamente improvável aliás, porque
todos sabemos que muitos dos elementos desta turba de fanáticos, prenha de nada
mais do que ódio, não só ajudaram a levar Donald Trump à sala oval da Casa
Branca, como viram na sua eleição uma espécie de consentimento para voltar a
sair à caça. É bom não esquecer, também, que apoiantes da alt-right celebraram,
à data, a eleição de Trump com a saudação nazi e só isto devia ser suficiente
para fazer corar de vergonha aqueles que consideram Trump a alternativa.
Em pleno século XXI, morreu(!) uma pessoa numa manifestação contra grupos
racistas.
A eleição de Donald Trump, abriu uma caixa de Pandora,
permitindo a muitos passar a dizer em público e com aberto despudor o que apenas
se atreviam a murmurar à boca pequena e entre os da mesma laia.
Agora, as imagens de elementos do odioso KKK, envergando
as suas tenebrosas túnicas brancas com o típico capuz são mais do que
simbólicas, são uma premonição do mal que ainda pode vir e o movimento vai, aos
poucos, assumindo-se de forma mais visível, depois de ter declarado em público
o seu voto em Trump. É certo que o candidato veio rejeitar o apoio, na altura,
mas não fará isso parte do espectáculo?
Citado por uma revista americana, um participante na
ignóbil marcha de sábado em Charlottesville falava de uma “vitória fenomenal”,
ao mesmo tempo que se congratulava com a necessidade que a polícia tivera de
recorrer à violência contra eles para os “calar”: “Isto mostra
que nós somos uma ameaça inacreditável para o sistema.”
É a supremacia, sim, mas da vergonha.