segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Da Supremacia

Ao contrário de Ivanka Trump (a próxima presidente dos EUA?, a seguir ao pai), que veio a público dizer que “não há espaço para racismo, supremacia branca e neonazis” (resta saber se estava a ser totalmente sincera), o pai Donald está de baixo de fogo por não ter condenado, com a veemência que lhe é habitual, a marcha fascista que teve lugar em Charlottesville. Donald Trump, o homem sem papas na língua, que usa o twitter como uma G3 em tempo de guerra, capaz de disparar furiosamente contra tudo e contra todos os que se lhe opõem, o salvador da pátria que distribui insultos como chocolates em tempo de Natal, não foi além de uma ligeira “condenação” ao que chamou “demonstração de ódio, intolerância e violência de muitas partes, de muitas partes”.

Donald Trump não condenou positiva e inequivocamente a marcha destes inqualificáveis, grupos nazis, supremacistas brancos, activistas da alt-right e afins, porque partilha de muitas das suas posições. Como dizia hoje, no Público, Miguel Esteves Cardoso, “é possível que Donald Trump não seja racista, mas é improvável.” É altamente improvável aliás, porque todos sabemos que muitos dos elementos desta turba de fanáticos, prenha de nada mais do que ódio, não só ajudaram a levar Donald Trump à sala oval da Casa Branca, como viram na sua eleição uma espécie de consentimento para voltar a sair à caça. É bom não esquecer, também, que apoiantes da alt-right celebraram, à data, a eleição de Trump com a saudação nazi e só isto devia ser suficiente para fazer corar de vergonha aqueles que consideram Trump a alternativa. Em pleno século XXI, morreu(!) uma pessoa numa manifestação contra grupos racistas.

A eleição de Donald Trump, abriu uma caixa de Pandora, permitindo a muitos passar a dizer em público e com aberto despudor o que apenas se atreviam a murmurar à boca pequena e entre os da mesma laia.

Agora, as imagens de elementos do odioso KKK, envergando as suas tenebrosas túnicas brancas com o típico capuz são mais do que simbólicas, são uma premonição do mal que ainda pode vir e o movimento vai, aos poucos, assumindo-se de forma mais visível, depois de ter declarado em público o seu voto em Trump. É certo que o candidato veio rejeitar o apoio, na altura, mas não fará isso parte do espectáculo?

Citado por uma revista americana, um participante na ignóbil marcha de sábado em Charlottesville falava de uma “vitória fenomenal”, ao mesmo tempo que se congratulava com a necessidade que a polícia tivera de recorrer à violência contra eles para os “calar”: “Isto mostra que nós somos uma ameaça inacreditável para o sistema.”

É a supremacia, sim, mas da vergonha.