Há mais um capítulo na telenovela Isaltino Morais, o
super-autarca que tantos adoram. “A democracia é o pior dos regimes, com
excepção de todos os outros” e, democraticamente, muitos eleitores anseiam por
validar, com o seu voto, o regresso desse autarca magnífico que tanto fez por
Oeiras, enquanto tanto ou mais fazia por si próprio, mas isso não interessa
nada. Entre os amigos que conto e que apoiam, incondicionalmente, Isaltino
Morais (a amizade é um pouco como o casamento, na alegria e na tristeza…), o
maior “elogio” que lhes ouço é, qualquer coisa do género, “pelo menos, este
ainda vai fazendo qualquer coisa”. E naquele “pelo menos” já sei o que cabe.
A corrupção mais ou menos escondida, a troca de favores,
os cargos por encomenda, o rápido enriquecimento pessoal, a teia de contactos
que os faz saltitar entre cargos públicos e privados consoante o vento, dividiu
os políticos em duas categorias, aos olhos da população em geral: os que usam os
cargos públicos em proveito próprio, exclusivamente, e aqueles que, para além
disso, “pelo menos” ainda vão fazendo qualquer coisita pelo povo. Isaltino,
aparentemente, encaixa-se nesta última. Após ter sido condenado e ter cumprido
pena por crimes de fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva e
branqueamento de capitais, Isaltino Morais apresentou a sua candidatura à
câmara de Oeiras, pois, parece que, o “povo” assim o exigia. Aliás, o “povo”
nunca deixou de exigir Isaltino como autarca. Foi assim que nasceu a
candidatura do (actualmente ex-)amigo Paulo Vistas, em 2013, com o nome
“Isaltino, Oeiras Mais À Frente”, na altura em que o ex-autarca se encontrava a
cumprir pena efectiva de prisão.
Durante algum tempo, pouco, Paulo Vistas ainda esperava
que o “amigo” não se apresentasse como candidato, oh, ingenuidade, pelo que,
tirou o “Isaltino” e manteve “Oeiras Mais À Frente”, descartando, pelo caminho,
o apoio do PSD.
Eis se não quando, o “povo” de Oeiras (lá está, não se
pode suspender a democracia, quando convém) “praticamente exigiu” que Isaltino
voltasse a casa! Recolheram-se assinaturas e, bingo!, Isaltino Morais é (ou
era, de momento) novamente candidato à sua amada autarquia. E agora entra em
cena mais uma daquelas peripécias em que somos exímios, não há remédio: o
tribunal rejeita a candidatura do filho pródigo e este, “perplexo”, deixa cair
uma suspeita de parcialidade sobre o juíz, afilhado de casamento de Paulo
Vistas! Touché! Mas, há mais: parece que a mulher do juíz, por sua vez,
trabalha no “laboratório dos serviços intermunicipalizados de Oeiras e
Amadora”, seja lá o que isso for.
De modo que, a procissão ainda vai no adro. Mas é sempre reconfortante quando a justiça se põe a jeito para dar crédito a políticos altamente recomendáveis, acabadinhos de sair da prisão por provadas práticas desonestas e violação da lei. De modo que, para alguns eleitores, de tanto ouvirem ou repetirem que todos os políticos são ladrões, é completamente indiferente a ausência generalizada de ética. Aliás, qual ética?