quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Isaltino, volta: estás perdoado!

Há mais um capítulo na telenovela Isaltino Morais, o super-autarca que tantos adoram. “A democracia é o pior dos regimes, com excepção de todos os outros” e, democraticamente, muitos eleitores anseiam por validar, com o seu voto, o regresso desse autarca magnífico que tanto fez por Oeiras, enquanto tanto ou mais fazia por si próprio, mas isso não interessa nada. Entre os amigos que conto e que apoiam, incondicionalmente, Isaltino Morais (a amizade é um pouco como o casamento, na alegria e na tristeza…), o maior “elogio” que lhes ouço é, qualquer coisa do género, “pelo menos, este ainda vai fazendo qualquer coisa”. E naquele “pelo menos” já sei o que cabe.

 

A corrupção mais ou menos escondida, a troca de favores, os cargos por encomenda, o rápido enriquecimento pessoal, a teia de contactos que os faz saltitar entre cargos públicos e privados consoante o vento, dividiu os políticos em duas categorias, aos olhos da população em geral: os que usam os cargos públicos em proveito próprio, exclusivamente, e aqueles que, para além disso, “pelo menos” ainda vão fazendo qualquer coisita pelo povo. Isaltino, aparentemente, encaixa-se nesta última. Após ter sido condenado e ter cumprido pena por crimes de fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva e branqueamento de capitais, Isaltino Morais apresentou a sua candidatura à câmara de Oeiras, pois, parece que, o “povo” assim o exigia. Aliás, o “povo” nunca deixou de exigir Isaltino como autarca. Foi assim que nasceu a candidatura do (actualmente ex-)amigo Paulo Vistas, em 2013, com o nome “Isaltino, Oeiras Mais À Frente”, na altura em que o ex-autarca se encontrava a cumprir pena efectiva de prisão.

 

Durante algum tempo, pouco, Paulo Vistas ainda esperava que o “amigo” não se apresentasse como candidato, oh, ingenuidade, pelo que, tirou o “Isaltino” e manteve “Oeiras Mais À Frente”, descartando, pelo caminho, o apoio do PSD.

 

Eis se não quando, o “povo” de Oeiras (lá está, não se pode suspender a democracia, quando convém) “praticamente exigiu” que Isaltino voltasse a casa! Recolheram-se assinaturas e, bingo!, Isaltino Morais é (ou era, de momento) novamente candidato à sua amada autarquia. E agora entra em cena mais uma daquelas peripécias em que somos exímios, não há remédio: o tribunal rejeita a candidatura do filho pródigo e este, “perplexo”, deixa cair uma suspeita de parcialidade sobre o juíz, afilhado de casamento de Paulo Vistas! Touché! Mas, há mais: parece que a mulher do juíz, por sua vez, trabalha no “laboratório dos serviços intermunicipalizados de Oeiras e Amadora”, seja lá o que isso for.

 

De modo que, a procissão ainda vai no adro. Mas é sempre reconfortante quando a justiça se põe a jeito para dar crédito a políticos altamente recomendáveis, acabadinhos de sair da prisão por provadas práticas desonestas e violação da lei. De modo que, para alguns eleitores, de tanto ouvirem ou repetirem que todos os políticos são ladrões, é completamente indiferente a ausência generalizada de ética. Aliás, qual ética?