Não foram os confrontos, a primeira coisa que me chamou a
atenção nas imagens. Foi o retrato brutal da degradação do bairro e as
condições miseráveis em que, às portas de Lisboa, vive gente. Lembrou-me
algumas zonas do Marrocos mais pobre e mais sombrio que vi, pela primeira vez,
há vinte anos. Os mesmos prédios inacabados, mortos-vivos, esventrados, as
parabólicas moribundas e, ainda assim, em violento contraste com a indecorosa
pobreza, a escorrerem pelas paredes, o lixo amontoado, o entulho, mobílias esventradas
lado-a-lado com carrinhos de bebé, um emaranhado caótico de fios e tubos…como é
possível?
Não serei a única a não saber exactamente o que, por
estes dias, aconteceu no bairro da Jamaica. Mas, nem todos os negros são
delinquentes, nem todos os polícias são bófias e, muito menos, de
merda, para usar uma linguagem erudita e digna e não ficar atrás de alguns
daqueles a quem se chama assessores parlamentares.
Dito isto, há escumalha que tresanda em ambas as partes, de todas as cores.
Para não fugir ao cliché, comportamento gera
comportamento, violência, mais violência e há quem não olhe a palavras para
engordar indignações; virulentas, também. O acesso às redes sociais, com
direito a instantâneos e a achaques em directo, devia estar vedado àqueles que,
sendo totalmente irresponsáveis, ocupam cargos que exigem, senão inteligência,
pelo menos, alguma ponderação e bom senso.