O Reino Unido anda às voltas com um Brexit que já poucos
parecem querer e os EUA resistem, obstinadamente travados por um muro que Trump
deseja como nenhum outro, pese embora alguns o tenham intentado antes.
A América continua sequestrada pela ausência de acordo
entre democratas e republicanos (ou só entre democratas e Donald Trump) sobre
quem constrói o quê e quem paga a conta antes, para ser apresentada aos
mexicanos depois. O impasse mantém-se há 27 dias, a maioria dos americanos
culpa o Presidente pelo shutdown, há milhares de funcionários federais a
trabalhar sem remuneração e os conselheiros de Trump andam a avisá-lo acerca
dos efeitos negativos que o apagão começa a ter na economia do
país. Nada que Donald Trump não aguente. Pode sempre despedir os
conselheiros que não o aconselhem como ele gostaria (a seguir, pode
insultá-los, no Twitter, para aliviar o stress), dispensar os
funcionários públicos e continuar a mandar vir pizzas e hambúrgueres do
McDonald’s e, quanto à economia, bom, o homem percebe imenso de negócios,
construiu um império dos diabos, está habituado a agarrar o que quer por onde
lhe dá mais jeito e gozo, há-de ter a competência e a teimosia necessárias e
suficientes para dar a volta ao assunto.
Parece, no entanto, que, nos bastidores, o Presidente
anda um pouco enfadado. Irritado. Não percebe porque não se consegue chegar a
um acordo. Talvez, porque o que Trump procura não é bem um acordo, é um acto de
resignada vassalagem, eu quero, eu posso, eu mando, quem tem juízo obedece, os
loucos que não atrapalhem. Afinal, quando Trump tiver terminado o seu muito
higiénico e muito eficaz muro, acabar-se-ão todas as peçonhas, a América será
grande outra vez e o povo americano, rendido à magnificência e visão do todo
poderoso, não voltará a recordar estes dias de infortúnio; lembrará, sim, a
intensa e ufana luta do melhor presidente das últimas décadas, empenhado em
proteger a nação dessa horda de criminosos que são todos os emigrantes, com
excepção da impecável e elegantíssima Melania, que faz decorações de Natal como
ninguém, God Bless America (e, de passagem, o Brasil, que o senhor é
omnipresente).
Entretanto, num esforço hercúleo, e heroico, a bem do
país como só ele é capaz, Donald Trump deu descanso ao Twitter presidencial
durante grande parte da tarde de ontem, preservando o bom humor para a
reunião com alguns democratas moderados – parece que eram sete –; aos radicais
já tinha chamado partido do crime e das fronteiras abertas, nada
preocupados com a crise humanitária na fronteira do sul. Ora, todos sabemos
como Trump e os seus aliados se preocupam. Tanto, que usam um gás natural
para repelir os intrusos. Tão natural que se pode comer com nachos, como
é que ninguém se tinha lembrado disso antes.
Se não for a bem, há-de ser a mal. E a contra-gosto. Até
lá, bye-bye. Homem que é presidente não tem tempo a perder.