"Em épocas tirânicas, as livrarias costumam ser lugares de acesso ao que é proibido e, portanto, levantam suspeitas."
"A minha mãe ainda tem a lembrança intacta das traseiras de certas livrarias durante a ditadura, do ritual de entrada, do medo e da alegria rebelde e infantil de ser admitida no esconderijo e, por fim, de tocar na mercadoria perigosa: livros exilados, ensaios revoltosos, romances russos, literatura experimental, títulos que os censores tinham qualificado como obscenos. Comprava-se um livro e, para além disso, havia a necessidade de escondê-lo para sempre".
Irene Vallejo, O Infinito num Junco
Para recordar no momento actual, em que, aparentemente, as livrarias continuam impedidas de abrir para vender exclusivamente livros, ao contrário das tabacarias e do "retalho multiproduto", que passam a estar, novamente, autorizados a fazê-lo. E, para que conste, continuo a achar absurda a ideia alimentada por alguns acerca de uma qualquer tentativa obscura e subversiva do Estado, com maiúscula, de controlar o povo pela imposição de um estado, com minúscula, de alarme mal-intencionado e paranóico, e outras ameaças que tal.
Ainda assim, pelo sim, pelo não e muito mais pelo que deixo ainda por dizer, mas que, de momento, não tenho tempo, fica o registo.