Na sequência das notícias que o PÚBLICO tem vindo a divulgar acerca de algumas vendas a saldo promovidas pelo Novo Banco – já sei, tinha que ser assim, havia prazos para cumprir, passou tudo ou quase tudo pelo crivo e aprovação do Fundo de Resolução que é gerido pelo Banco de Portugal em parceria com o Ministério das Finanças e, cereja no topo do estrondoso dolo, é tudo legal, tão legal que a expressão o crime compensa (o “não” há muito que saiu do nosso léxico financeiro) ameaça assumir uma outra dinâmica, e mais uma data de predicados talhados à medida de outra evidência portuguesa, com certeza, que é como quem diz, se der prejuízo o Estado paga, se der lucro o privado come – a administração do banco que nos garantiram ser bom (sê-lo-á para alguns) ameaça processar o jornal.
Numa coisa o queixoso tem razão: aparentemente, pelos menos os negócios que têm provocado continuado escândalo de há uns tempos a esta parte, foram aprovados pelo Fundo de Resolução e, portanto, por outras duas entidades insuspeitas, apesar de o Tribunal de Contas “acreditar” que o Ministério das Finanças não dispõe, por exemplo (e que grande exemplo), “de todos os dados relativos à venda do Novo Banco à Lone Star”. Mas, faz-me sempre confusão quando insistem no ataque ao mensageiro, ou na estafada estratégia de vitimização e perseguição, aqueles que, sob legítima suspeita, se vêem obrigados a explicar-se; mais ainda quando em causa estão dinheiros que, mais cláusula, menos cláusula, acabam sempre por sair dos bolsos de quem paga (mesmo) impostos.
Não é preciso perceber muito de
finanças, nem de economia, nem de bancos, nem de mercado imobiliário, nem de
negócios onshore ou offshore para pasmar com alguns. Por exemplo (outro grande exemplo): “a Apollo,
que pagou 40 milhões de euros (e injectou mais 150 milhões). Passados quatro
anos e meio, a 18 de Julho de 2019, a seguradora mudou novamente de mãos, tendo
entrado no universo da italiana Generali, que
pagou à Apollo pelo grupo Seguradoras Unidas (Tranquilidade, a
Açoreana e a AdvanceCare) 600 milhões de euros (510 milhões foram pagos pela
Tranquilidade e pela Açoreana e 90 milhões pela AdvanceCare)”.
Enfim. Mais do mesmo. Com uma pitada de
pseudo-indignação entre aqueles que chafurdam no mesmo vaso que, por sua vez,
comunica com os adjacentes, alterando caras e nomes, num baile
de máscaras muito mais antigas do que as que usamos agora e com o
distanciamento que se impõe entre governantes e governados, uns mais do que
outros, como também convém.