terça-feira, 11 de agosto de 2020

Instantes

 

Tiago Miranda


Gosto daquela fotografia desde a primeira vez que a vi. Servia de rosto a um artigo de opinião publicado no Expresso, quando o silêncio que caía sobre as cidades, antes devoradas pelo ruído em todas as suas variantes, ainda era um pequeno grande luxo a que nos poderíamos habituar. Sem sobressaltos. 

Procurei-a. À fotografia. Mas com pouco sucesso e ainda menos empenho. Há instantes e instantes, todos eles irrepetíveis, e o que vêem uns olhos, não vêem outros. Estes outros são meus e nem sempre vêem o mesmo.




              


Entretanto, ouço dizer que a aplicação de rastreio que nos há-de manter ainda mais a salvo da pandemia do nosso embrutecimento está pronta a ser consumida; e pronta a consumir-nos, a fogo lento, nesta desconfiança instalada entre o nós e, agora, o eu e os outros. Rejeito. Não comungo da teoria da morte anunciada e mansamente consentida dos nossos direitos e liberdades, mas, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa; é outra expressão esgotada, mas também gosto. Vade retro. Era como poderiam ter chamado à aplicação.