segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Pessoas e Animais

 

Acho inqualificável maltratar um animal. De estimação, de companhia, não conheço as designações correctas, sou totalmente leiga na matéria, o que não interessa nada para dizer o que disse e manter o que disse. Quem o faz, quem maltrata um animal de forma consciente e deliberada, deve ser sujeito às leis que existem para a sua protecção. Também acho que há alguns animais melhores do que algumas pessoas, admitindo que se possa colocar a coisa assim. Mas, não, não acho que a coisa se possa colocar assim. E lamento que uma sociedade justa, igualitária como se diz agora tanto, não tenha, pelo menos, a mesma capacidade de se mobilizar em torno do sofrimento e da morte dos seus velhos.

Se os velhos do lar de Monsaraz – e de outros lares em situação idêntica – pertencessem à tal classe dos animais de companhia ou de estimação, talvez as notícias sobre as circunstâncias das suas mortes tivessem despoletado a habitualmente exigida onda de indignação e revolta por terem sido deixados à sua (má) sorte. Assim, o facto de os resultados da comissão de inquérito que a Ordem dos Médicos divulgou referirem que a maioria dos doentes morreu por “descompensação” das suas doenças crónicas “agravada por estados de desidratação”, que houve falhas na medicação regular dos doentes e que nem sequer havia registo dos dados clínicos dos doentes, entre outras conclusões, passou mais ou menos em claro. Entretanto, morreram 18 pessoas e não sei se o primeiro-ministro se sentiu “chocado”, ou se considera o caso “absolutamente intolerável”. Ou se não teve ainda oportunidade de dizer o que sente ou deva sentir. Afinal, estamos em Agosto; com a ajuda do (im)prestável líder do ainda (não se sabe bem por quanto tempo) maior partido da oposição, acabaram-se os debates quinzenais como os conhecíamos e o presidente anda tão entusiasmado com o verão e as bolas de berlim que não comia há 20 anos, que nem o incomodou nada partilhar o bolo com a criançada, ali rapidamente dividido à mão e depois de uma saciável dentada presidencial. Aliás, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido uma desilusão em crescendo, e cada vez mais apressada com o passar dos casos e dos dias. Sinto-me tão defraudada que me apetece esbofetear-me, por tão ingénua.