Acho inqualificável
maltratar um animal. De estimação, de companhia, não conheço as designações
correctas, sou totalmente leiga na matéria, o que não interessa nada para dizer o que disse e manter o que disse. Quem o faz, quem maltrata um animal de forma consciente e
deliberada, deve ser sujeito às leis que existem para a sua protecção. Também
acho que há alguns animais melhores do que algumas pessoas, admitindo
que se possa colocar a coisa assim. Mas, não, não acho que a coisa se possa
colocar assim. E lamento que uma sociedade justa, igualitária como se diz agora
tanto, não tenha, pelo menos, a mesma capacidade de se mobilizar em torno do
sofrimento e da morte dos seus velhos.
Se os velhos do lar
de Monsaraz – e de outros lares em situação idêntica – pertencessem à tal classe
dos animais de companhia ou de estimação, talvez as notícias sobre as
circunstâncias das suas mortes tivessem despoletado a habitualmente exigida
onda de indignação e revolta por terem sido deixados à sua (má) sorte. Assim, o
facto de os resultados da comissão de inquérito que a Ordem dos Médicos
divulgou referirem que a maioria dos doentes morreu por “descompensação” das suas
doenças crónicas “agravada por estados de desidratação”, que houve falhas na
medicação regular dos doentes e que nem sequer havia registo dos dados clínicos
dos doentes, entre outras conclusões, passou mais ou menos em claro. Entretanto, morreram 18 pessoas e não sei se o
primeiro-ministro se sentiu “chocado”, ou se considera o caso “absolutamente
intolerável”. Ou se não teve ainda oportunidade de dizer o que sente ou deva
sentir. Afinal, estamos em Agosto; com a ajuda do (im)prestável líder do ainda (não
se sabe bem por quanto tempo) maior partido da oposição, acabaram-se os debates
quinzenais como os conhecíamos e o presidente anda tão entusiasmado com o verão
e as bolas de berlim que não comia há 20 anos, que nem o incomodou nada
partilhar o bolo com a criançada, ali rapidamente dividido à mão e depois de
uma saciável dentada presidencial. Aliás, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido uma
desilusão em crescendo, e cada vez mais apressada com o passar dos casos e dos
dias. Sinto-me tão defraudada que me apetece esbofetear-me, por tão ingénua.