Eu
também gosto de ti, ó chuva, mas, o que ontem me manteve encerrada mais de
vinte minutos no carro estacionado, não eras tu, não era chuva.
Desisti,
voltei para casa e reorganizei a minha agenda.
A
avenida por onde passo todos os dias coberta por um lençol de água lamacenta. Subia-se
e descia-se em cortejo, lentamente, cegamente, gente amontoada nas paragens de
autocarro minúsculas para dilúvio tamanho, um lago castanho à porta da escola vazia,
a sirena próxima de um carro de bombeiros rasgando o pranto aceso daquele céu
de fim de mundo.
Não
me sai da cabeça o casal de velhos, afogados no próprio quarto, a água
devorando a casa que habitavam há quarenta anos.