terça-feira, 15 de outubro de 2024




 
Para ouvir à chuva morna que se vê daqui.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

André Ventura só tem uma palavra: uma diferente a cada intervenção pública.

Não ponho as mãos no fogo por Luís Montenegro (tinha boa impressão de Carlos Moedas e bastou-lhe a Câmara Municipal de Lisboa para a pose de pequeno imperador, ou seja, não percebo nada disto, se dúvidas houvesse), mas desconfio mais da abnegação do líder do Chega: o primeiro-ministro promete-lhe a cenoura que ele deseja e persegue desde Março e Ventura declina saciar a fome que o consome noite e dia. Pois. E não chamem “extrema-direita” àquela turma de patetas que compõem a bancada do Chega, é preciso um pouco mais do que vestir-lhe(s) a pele. Nem para cata-ventos, que esses ainda têm préstimo.


quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Wildlife Photographer of the Year


 



Há anos que um amigo me avisa: vivemos (a caminho do pretérito imperfeito...) em paz há demasiado tempo. Aqui, no admirável mundo ocidental, convencidos da nossa superioridade moral, social, cultural e tal, tão embevecidos com a rotina e a ordem democrática que amolecemos no embuste embalado da normalidade, da igualdade, da unidade, e por aí adiante, mas pouco, para não sair da linha. Estamos nessa zona de interesse. O abismo é mesmo ali ao lado, mas escolhemos não ver. Ou escolhíamos, não sei. Portugal parece tão distante dos Infernos mais próximos que podemos manter os olhos fechados por mais algum tempo, brincar aos orçamentos, anani-ananão, cedes-tu-eu-não, ignorar a falência do Estado, porque, afinal, apesar de tudo e do resto do mundo, vivemos num cantinho do céu, diz a dona Berta da confeitaria.

Cumpriu-se um ano sobre o ataque infame do Hamas. O horror do 7 de Outubro tornou-se no elixir da impunidade de Benjamin Netanyahu e do seu implacável exército. Dizem que não sabe nada de História quem se atreve a questionar o modo e o método da “legítima defesa” de Israel. Ignorantes ou anti-semitas. Não há espaço para olhar aquela orgia de morte e destruição e questionar. Se os palestinanos abandonassem as armas haveria paz, se Israel abandonasse as armas, não haveria Israel, como é que insistimos em complicar? 

O Hamas e o Hezbollah são organizações terroristas, políticas ou não, assumidamente empenhadas em destruir Israel e a causa palestiniana deve ser a última das suas preocupações (tal como os reféns israelitas para Netanyahu), mas dificilmente terão capacidade para tal, mesmo com o apoio do Irão. Israel é uma potência militar significativa, com um exército moderno, eficaz, um sistema de defesa avançado e possui considerável apoio internacional. Não é um Estado em risco de desaparecer. Não pela via militar. 

Mesmo que não se lamente (e eu não lamento) a morte dos responsáveis pela barbárie de há um ano, ou a extinção de regimes como o do Irão, onde mulheres sob custódia policial podem ser assassinadas por não cobrirem devidamente o cabelo, a solução não pode passar pelo extermínio de populações inteiras e pela destruição completa da terra, que ambos, judeus e palestinianos reclamam como sua com base em razões e argumentos históricos e religiosos que assistem às duas partes. É uma carnificina sem fim, alimentada pela vingança, mais do que pelo direito à defesa, e por uma embriaguez de guerra capaz de amputar qualquer resto de humanidade. Se há exército e inteligência capazes de ataques cirúrgicos aos seus inimigos é Israel, pelo que, quanto de História é preciso saber ou lembrar para rejeitar a perseguição predatória de um povo?

Vale-me o Outono. A transmutação lenta das cores na sua vaidade decadente; a luz dourada emoldurando aquele grupo de gaivotas que repousam no telhado em frente. E os meus livros. Não há vida sem livros. Talvez o céu se pareça com isto, dona Berta.


sábado, 5 de outubro de 2024

terça-feira, 24 de setembro de 2024




 


As mãos repousam no colo, como pássaros mortos. Tem o cabelo preto e liso, brilhante como asfalto fresco. Ri fechando os olhos, e o rosto ilumina-se; um campo de girassóis abertos. A pele é negra; o negro fértil das estepes que largou com saudade, negra como as noites sem lua, abrigo murado de histórias em versos rasantes, lapidando memórias.


domingo, 22 de setembro de 2024

Durante muitos anos ouvi os “Sinais” de Fernando Alves, na TSF (e também o "Onde nos Levam os Caminhos”). Único na voz, imutável; nas histórias. Narrador exímio, curioso, inquieto, naquele modo de contar vertiginoso, de espanto permanente. Depois, Fernando Alves zangou-se, bateu com a porta, disseram-no reformado. Há dias, descobri que trocou a TSF pela Antena 1, e os “Sinais” deram lugar ao “Os Dias que Correm”. Gosto na mesma. Já li a reportagem do Río de los Niños Espantapájaros, o artigo (mais ou menos, entre o que se entende e o que se intui) de Aníbal Fernandes sobre a Língua Mirandesa, vi as couves de Valhascos, fugi da Nossa Senhora da Aflição porque já não suporto a desgraça dos incêndios que consomem Portugal a cada Verão, e (re)visitei Júlio Pomar. 

Gosto. Fico a par do mundo invisível, com esse vou aplacando a fúria do outro.     









sexta-feira, 13 de setembro de 2024