quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

 

Jólabókaflóð, a inundação … de livros. No Natal.

Não sei pronunciar aquilo – li, apenas – mas suspeito que soa tão mal como parece.  O que seria das Línguas sem a nossa.

Já a ideia agrada-me; gosto de dar e receber livros desde que me lembro de ser gente. Por isso,  



E muito grata a quem por aqui se perde um pouco. Sei que posso parecer quase bruta, mas não sou tanto.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Dos meus caprichos

Não sei se serei a única leitora que não escolhe livros pela sinopse, mas nunca escolho livros pela sinopse; ou não me lembro de alguma vez. Escolho livros pela capa, pelo título, pelo autor ou pelo país de origem, por uma frase que li ao acaso ao abrir um volume, e por último, resolutamente por último, pelas recomendações ou prémios, onde residem as maiores das minhas desilusões. Foi assim que cheguei (e pereci) ao meu primeiro livro da nova dama do noir espanhol. Dizem.

O tempo é de conciliação e tolerância, devia calar-me, mas há muito tempo que não lia nada tão saturado de lugares-comuns, das duas irmãs apaixonadas pelo mesmo homem, à adolescente que tem um caso com o amigo do pai. Et cetera, que aquilo cumpre todas as máximas.  Há uma insistência tão óbvia em explicar e mostrar, que sobra pouco à imaginação: o assassino materializa-se nas entrelinhas sobrelotadas. Mas, como dizia alguém há tempos, se é tão fácil, por que não fazem; e se não faço, por que critico?

Já o de Susana Araújo, que escolhi pela capa e de quem julgo nunca antes ter ouvido falar, foi um prazer. 


sexta-feira, 19 de dezembro de 2025




Gosto tanto desta canção. Já contei, não já? Um daqueles encontros felizes; talvez porque breves.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

 

… e eram tão verdes os azevinhos, de lustro tão liso e frio, que a luz reflectida nas suas folhas lacadas criava a ilusão de pequenas camadas brancas ovaladas de neve, que logo desapareciam quando me aproximava, o espanto quebrado no desvio angular.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2025


O mundo que me habituei a habitar converteu-se numa distopia, orgânica, que observo fora de mim. Dispo a pele que me contém e pairo sobre este ninho de cucos, de víboras, observando o caos. Deus está morto, não há profeta que nos redima. Sinto-me enganada porque acreditei que éramos melhores; acreditei que a liberdade seria sempre um ponto de apoio onde alavancar a Democracia. Mas a liberdade também pode escolher ressuscitar as suas próprias tragédias; e por despeito, não apenas por medo, pela miséria ou pela humilhação: por despeito, consciente do horror. O povo deixou-se enfastiar. A complexidade, a dúvida, a responsabilidade. O livre pensamento. Enfastiou-se da lucidez. Farto, ruma à vala comum, salivando sob a sineta do dono, com a voragem dos curiosos ante os desastres, não para levar ajuda, mas para beber da ruína. Vai vencendo um cansaço acre, disfarçado de revolta, que encontra prazer em ver arder o que não compreende e detesta. A democracia é frágil, exige cuidado, tempo, e o tempo morre no agora. Eu sou apenas recusa.



domingo, 14 de dezembro de 2025

Raquel Soeiro de Brito, 100 anos

O jornalismo também se faz de boas conversas. 

"Tenho visto muitas coisas, mas com perigo iminente à minha frente, a uma distância como estou de si, foi só com este vulcão. É como um toureiro diante de um touro, que passa com a capinha e está mesmo nos cornos do touro. É uma sensação absolutamente de fascínio. Estava com a câmara virada e houve uma explosão lindíssima. Espantosa. Com aquela impetuosidade, houve uma quantidade de explosões que duraram quatro horas seguidas. Eu não tirava os olhos. Não podia sair, a ponto de os bombeiros pegarem em mim debaixo dos braços e me levarem."


Salvador Fernandes/Fototeca do CEG-IGOT da Universidade de Lisboa


sábado, 13 de dezembro de 2025

domingo, 7 de dezembro de 2025





quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

(Outras) Declarações sem Interesse Nenhum

 

Gosto do Natal. O meu Natal é de sorrisos e mimos e colo e abraços demorados, e, nisso, não é diferente de muitos outros dias do meu ano, e por isso sou grata, embora não o verbalize com o despudor que merecia. Talvez o meu Natal sirva esses pequenos excessos: agradecer o tempo que não perco em discussões familiares sobre, nem em dias inteiros, insanos, de centro comercial, em filas intermináveis para a compra de presentes estéreis.

Depois, há um bacalhau cozido, que não é exactamente com todos, mas não dispensa uma generosa cama de azeite, muito alho picado directamente no prato e um pouco de pimenta (que eu prefiro preta), manjar que a família herdou da mania do pai do meu pai, Natal após Natal.

Há (não é inevitável?) muita saudade, no meu Natal, mas há também, ainda, uma alegria de miúda que guardo no fundo de mim como o mais precioso dos bens, e é sempre esse o meu maior desejo para aqueles a quem quero bem, um breve pulsar de alegria para aguentar a face miserável do mundo.