Não
há nenhum juízo capaz de me conciliar com a mundividência de Donald
Trump – e seus apóstolos, como aquela matilha de indigentes que compõem a
bancada do nosso, salvo seja, André Ventura. Acho-o grotesco, manhoso, tinhoso,
ordinariamente ignorante e imbecil, predador e até patético; representa tudo o
que desprezo, nomeadamente, num homem. Donald Trump, não só é o
caricaturável por excelência, como merece todas as piadas que se possam fazer à
sua custa; mas ridicularizar-lhe a genitália (esse enfadonhamente previsível
arremesso de escárnio) não servirá grandes propósitos, nem mesmo os do humor.
Desprezar
Donald Trump não me impede de admirar – pelo espanto, e apenas pelo espanto – a sua
autoridade; a sua implacável e aparentemente inabalável eficácia política. A transgressão sistemática
que cultiva e promove desbragadamente, eleva-o, fortalece-o. É perturbador. Espero
viver o número de anos suficientes para vir a conhecer o olhar da História
sobre o homem que se tornou democraticamente imune a todas as regras, a todas
as leis que regem o poder democrático e pelas quais, muitos antes dele (e
muitos depois dele) foram dilacerados. O caso Epstein é, talvez, o único que
pode realmente fazer tremer essa autoridade. Donald Trump transformou a
política numa performance onde a verdade se prostitui ao drama da
espectacularidade e Epstein ameaça tornar-se a Némesis perfeita.
Os escândalos sexuais envolvendo a elite política e outras figuras públicas de poder não são novos e tendem a ser esmagados por esse mesmo poder, indiferente às vítimas que vai abatendo pelo caminho. O sexo é o último reduto onde todas as máscaras caem, esse tentador e obscuro bastidor do poder – do político, obviamente –, onde, desde todos os tempos, se desenrola uma extravagante coreografia de favores e corrupção, que não reconhece fronteiras ou hierarquias, onde a hipocrisia se despoja da sua eloquência e se expõe, frágil e movediça, à luz sólida e crua do escrutínio. Não é a economia, stupid, que derruba os grandes impérios. O sexo é a linguagem universal da corrupção, moeda de troca de babel, o denominador comum que nivela escravos e imperadores – ninguém é imune. O que talvez seja diferente aqui é o facto de haver – ou parecer haver – uma base considerável de apoiantes de Trump ferozmente contra a ocultação dos tais ficheiros da vergonha e cada vez mais consciente das suas desesperadas manobras de distração. Simultaneamente, não deixa de ser irónico, o mentiroso rudimentar, que nunca se inibiu de exibir a sua misoginia primária, assombrado pela verdade mais antiga do mundo.