Há poucos meses, nos EUA, dava-se conta
do sobressalto que causava o estado de saúde da juíza Ruth Bader Ginsburg. Aliás,
desde que Trump ocupa, estrondosamente, o cargo de presidente daquele país, que
qualquer ameaça de espirro da juíza Ginsburg provoca ondas de pânico em todo o
território americano. Ou quase todo. Facilmente se percebe porquê: o cargo que ocupava como Juiz
do Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América é vitalício, aquela juíza, em
particular, não tinha em grande conta o actual presidente americano e, sob
aquela aparência frágil – quase ternurenta – era bastante mais do que uma mulher
extraordinária. Donald Trump, se pudesse, muito provavelmente, tê-la-ia despedido,
como, de resto, faz amiúde com os que ousam denunciar e contrariar os seus
tiques de um deus maior. Assim, restava esperar que a natureza seguisse o seu
curso. Ruth Bader Ginsburg deixou um vazio que Trump e a sua turba têm pressa
em ocupar, preparando-se para forçar uma substituição que, outrora, rejeitaram aos
democratas. O que já não deve espantar ninguém: este tipo de gente, seríssima, nada
hipócrita, ora essa, apostada em contrariar o sistema e a resgatar o seu
país – o mundo, se preciso for – só repudia os maus hábitos da democracia quando
não se pode servir deles.
Entretanto, o nosso venturoso
anti-sistema, o messias de trazer por casa, emocionou-se (ou assustou-se, ou irritou-se) no
último comício. Parece que os 99% com que foi reeleito, há duas semanas, como
líder do seu partido, não foram suficientes para evitar o percalço de três tentativas
para fazer eleger a sua lista à direcção do chega. Assim, em pequenino, como o
próprio. Também parece que (se calhar…) se demite se Ana Gomes lhe tirar o
segundo lugar na corrida às presidenciais, coisa que eu espero que aconteça;
por várias razões, e uma delas será ouvir como vai explicar que, obviamente,
não se demite. Como se disso houvesse alguma dúvida.
E, ultimamente, têm-se ouvido muitas vozes alertando para a necessidade absoluta de usar bem os dinheiros de Bruxelas. Como sempre acontece nestas coisas, umas vozes são mais sérias do que outras. “Não desperdiçar um único cêntimo” e mais uma série de anúncios bombásticos, intencional e adequadamente histriónicos para abafar a excitação dos clientes habituais, não são de levar muito a sério se vêm daqueles que, podendo fazer radicalmente diferente, sempre vão fazendo mais ou menos do mesmo. Dizem-nos que os portugueses já não toleram mais desmandos escandalosos, que estamos fartos, que atingimos um limite para a pouca vergonha, e mais um tanto de coisas que há-de permitir que seja agora. Agora é que é. Agora é que vamos ver Portugal renascer de todas as cinzas que acumulámos ao longo de anos e anos a fingir que tínhamos um plano para deixar de perder a oportunidade sempre que ela surgia. A ver vamos. Uma coisa é certa: como ontem dizia Ana Gomes no seu ainda espaço de comentário, na SicNotícias, se não nos mobilizarmos, efectivamente, como sociedade, para exigir o tal rigor e transparência que nos devem aqueles que elegemos para nos representarem nos diversos espaços de poder e soberania, vai ficar tudo pior. Muito pior