Somos um país que não cuida do seu e não cuida dos seus. Um país que se vende a retalho, de costas voltadas aos problemas da gente real; que sonha com os unicórnios das feiras que servem as vaidades dos empreendedores amparados por um Estado deslumbrado, que fala inglês, às vezes francês, e não se importa de servir de concierge aos grandes investidores. É assim que vamos deixando morrer um Alentejo entregue ao lucro das monoculturas intensivas e à exploração de mão-de-obra barata, no limite da escravatura, de onde as gentes da terra são enxotadas com fastio, enquanto parte do nosso litoral é entregue aos promotores dos “grandes projectos turísticos”, em negócios babilónicos onde vale quase tudo o que possa ser comprado, inclusive acessos privados a bens que são e devem ser públicos, uma usurpação descarada de recursos com a bênção dos nossos governantes. É isto o progresso?
Agora
que se volta a falar de “regionalização”, podíamos aproveitar para encher
emissões televisivas de análise e comentário, directos sobre directos, também sobre a
forma como delapidamos (ou deixamos delapidar) o nosso património. A "regionalização" vai servir exactamente a quê e a quem; vai fazer-nos mais atentos e presentes, ou, apenas, multiplicar cargos e carguinhos e saciar desejos de poder? Gastar com este assunto o mesmo tempo que
gastamos a espreitar os centros de vacinação, a afluência às farmácias para
comprar testes-covid, ou os interstícios da detenção – e, agora, da audição – de
João Rendeiro. Mas não. Talvez se isto fosse um fora-de-jogo mal marcado.