quinta-feira, 3 de abril de 2025

A Morte dos Jacarandás

Luís Montenegro é, por estes dias, um homem feliz. Habita-o a certeza de ter jogado uma cartada de mestre; daí o sorriso escarninho que não o abandona há semanas. Conhece bem as regras não escritas da cultura democrática portuguesa. Obviamente, não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português – só faltou acrescentar que só não o fazem os portugueses que não podem (os ingénuos não contam). Se o PS tivesse visão, como se diz, talvez tivesse escolhido José Luís Carneiro em vez de Pedro Nuno Santos como Secretário-Geral. Os portugueses prodigamente invocados nas homilias políticas talvez não levem muito a sério as acusações de leviandade de alguém que traz colado a si o episódio whatsapp na gestão da TAP. Todos os políticos são iguais, mas há éticas mais estéticas do que outras. Entretanto, não percebi nada daquilo do Bolhão, porque cheguei tarde e a más horas e sem paciência para. 

Em Lisboa, levantou-se um protesto em defesa dos jacarandás da 5 de Outubro – petições de cinquenta mil assinaturas e gente que ameaça amarrar-se às árvores. É sabido que não gosto de jacarandás. Enjoa-me o cheiro, exaspera-me aquele rasto pegajoso que vai sobrando sobre a calçada e prefiro o roxo intenso ao azul-lilás. Não há quadro capaz de me convencer da beleza da coisa. Outra gente aponta a extravagância de nos erguermos contra o abate de árvores, mas não contra a justiça que permite a três sacanas prosseguir a actividade influenciadora sendo suspeitos com provas dadas em tictoks de terem violado uma miúda de dezasseis anos. Alegadamente. Excepto pela publicação infame, parece que demonstradamente. São novos, não têm cadastro, não estudam, não trabalham e ganham dinheiro com uma espécie de "esquema Ponzi piramidal que está no limiar do crime". Não há “Adolescence” que nos cure disto.