Talvez mereça castigo, mas Andrew Scott foi o meu primeiro Ripley. O de
Patricia Highsmith ainda não saiu da minha estante – como é possível? – e dos filmes
anteriores vi apenas excertos. Diz quem sabe que não há três Ripleys
iguais (quatro, se contarmos, como é devido, com o de Highsmith); talvez não seja
grave começar pelo da Netflix. Teria valido a pena apenas para namorar a Itália
a preto e branco – matrona e decadente, belíssima; ela própria personagem emergindo
dos grandes planos, ao ritmo das sombras que atravessam o labirinto de espelhos
de Tom. Espelhos de perdição. Tom Ripley, o impostor irresistível, a quem
Andrew Scott empresta uma singularidade angular. Silêncios precisos e gravidade
litúrgica. A violência normativa que absolve. Há algo de profundamente
perturbador na forma como a maldade crua e milimétrica de Ripley se insinua na
nossa (ou na minha) simpatia. Tragédias a contraluz que exaltam a cumplicidade,
cuidado, há marcas de sangue nas escadas, não, não vás por aí, em vez de repulsa pela malvadez. E, às vezes, nem há génio, apenas preguiça, desprezo pelos
outros, um quase ridículo, e, claro, uma sorte absurda. Magnífico, o meu
Ripley tardio. A maldade fingida é inofensiva, mas pode ser igualmente perversa.