terça-feira, 27 de maio de 2025

 

Talvez mereça castigo, mas Andrew Scott foi o meu primeiro Ripley. O de Patricia Highsmith ainda não saiu da minha estante – como é possível? – e dos filmes anteriores vi apenas excertos. Diz quem sabe que não há três Ripleys iguais (quatro, se contarmos, como é devido, com o de Highsmith); talvez não seja grave começar pelo da Netflix. Teria valido a pena apenas para namorar a Itália a preto e branco – matrona e decadente, belíssima; ela própria personagem emergindo dos grandes planos, ao ritmo das sombras que atravessam o labirinto de espelhos de Tom. Espelhos de perdição. Tom Ripley, o impostor irresistível, a quem Andrew Scott empresta uma singularidade angular. Silêncios precisos e gravidade litúrgica. A violência normativa que absolve. Há algo de profundamente perturbador na forma como a maldade crua e milimétrica de Ripley se insinua na nossa (ou na minha) simpatia. Tragédias a contraluz que exaltam a cumplicidade, cuidado, há marcas de sangue nas escadas, não, não vás por aí, em vez de repulsa pela malvadez. E, às vezes, nem há génio, apenas preguiça, desprezo pelos outros, um quase ridículo, e, claro, uma sorte absurda. Magnífico, o meu Ripley tardio. A maldade fingida é inofensiva, mas pode ser igualmente perversa.