quinta-feira, 11 de setembro de 2025


Há tanta coisa extraordinária no que já se conhece sobre o acidente e sobre a empresa responsável pela manutenção do malfadado elevador da Glória – extraordinária e, ao mesmo tempo, tão desgraçadamente típica daquele oportunismo manhoso que nos (des)governa –, que mais extraordinário ainda é não ter havido mais e maiores tragédias. Ocorreu agora, com Carlos Moedas na presidência e assustado como uma lebre (pensar que houve um tempo em que o vi como alguém sério e capaz…), como poderia ter ocorrido com outro qualquer, talvez até com outra empresa: um descarrilamento em 2018, aparentemente, com “grandes falhas na manutenção dos rodados”, foi tratado com a complacência do costume, e que só se percebe pela demissão cívica, social, política, que aceitamos com a resignação dos derrotados. Tudo parece permanentemente improvisado; deve ser por isso que tanto rezam missas as ilustres trindades da pátria.

Para fazer diferente, Carlos Moedas não precisava de berrar contra Medina, uma paródia que há-de persegui-lo até em sonhos: podia ter começado por mandar analisar à lupa em que condições guarda Lisboa os seus barris de pólvora, por mais belos, apetecíveis e rentáveis.

A percepção – tão cara ao primeiro-ministro quando convém – é a de um país espoliado e exausto, que sobrevive apesar dos saqueadores do Estado e aos ombros de gente animada de boa vontade e solidariedade, como os médicos que interromperam férias para resolver e ajudar. Ainda se aprendêssemos, de facto, alguma coisa.