Há
tanta coisa extraordinária no que já se conhece sobre o acidente e sobre a
empresa responsável pela manutenção do malfadado elevador da Glória – extraordinária
e, ao mesmo tempo, tão desgraçadamente típica daquele oportunismo manhoso que
nos (des)governa –, que mais extraordinário ainda é não ter havido mais e maiores
tragédias. Ocorreu agora, com Carlos Moedas na presidência e assustado como uma
lebre (pensar que houve um tempo em que o vi como alguém sério e capaz…), como
poderia ter ocorrido com outro qualquer, talvez até com outra empresa: um
descarrilamento em 2018, aparentemente, com “grandes falhas na manutenção dos
rodados”, foi tratado com a complacência do costume, e que só se percebe pela
demissão cívica, social, política, que aceitamos com a resignação dos derrotados.
Tudo parece permanentemente improvisado; deve ser por isso que tanto rezam
missas as ilustres trindades da pátria.
Para
fazer diferente, Carlos Moedas não precisava de berrar contra Medina, uma
paródia que há-de persegui-lo até em sonhos: podia ter começado por mandar analisar à
lupa em que condições guarda Lisboa os seus barris de pólvora, por mais belos,
apetecíveis e rentáveis.
A
percepção – tão cara ao primeiro-ministro quando convém – é a de um país espoliado
e exausto, que sobrevive apesar dos saqueadores do Estado e aos ombros de gente
animada de boa vontade e solidariedade, como os médicos que interromperam férias
para resolver e ajudar. Ainda se aprendêssemos, de facto, alguma coisa.