Seja tradição, misoginia, influência dos vikings, do alemão ou do
latim, a verdade é que me seduz que, de um navio, em inglês, se diga she. And she will, garantia o Mr. Andrews
de James Cameron sobre o iminente naufrágio do Titanic. Por
coincidência, (re)vi o filme a poucos dias de viajar para a Irlanda; intencionalmente,
voltei a vê-lo no regresso. Gosto de histórias bem contadas, e o Titanic
de Cameron é, essencialmente, uma história bem contada. Triste no que tem de
real e trágico, medonhamente romântica, e muitíssimo bem contada. O museu que
Belfast dedica ao magnífico e efémero navio é interessante, não sei se absolutamente
imperdível, mas impressiona ler e ouvir testemunhos de sobreviventes e,
sobretudo, perceber como pequenos erros e pequenas contrariedades concorreram
para o desastre. Estava longe de imaginar que, daí a poucos dias, choraríamos os
mortos do icónico e nosso elevador da Glória, mas lembro-me de pensar em desgraça no
regresso, durante a aterragem desajeitada no aeroporto de Lisboa, a cidade tão
perto que parece possível tocar.
A
estátua de James Joyce é em Dublin, não em Belfast, Irlandas diferentes, eu sei, mas vou deixar aqui. Também
por coincidência, a primeira “notícia” que me apareceu nada mais desligar o
modo de avião foi a crónica de Miguel Esteves Cardoso sobre como ler Ulisses:
ando a fazê-lo há um ano, há momentos em que me aborreço de morte e outros em
que pasmo de admiração – como é que se consegue aquilo?