quinta-feira, 11 de setembro de 2025

 

Seja tradição, misoginia, influência dos vikings, do alemão ou do latim, a verdade é que me seduz que, de um navio, em inglês, se diga she.  And she will, garantia o Mr. Andrews de James Cameron sobre o iminente naufrágio do Titanic. Por coincidência, (re)vi o filme a poucos dias de viajar para a Irlanda; intencionalmente, voltei a vê-lo no regresso. Gosto de histórias bem contadas, e o Titanic de Cameron é, essencialmente, uma história bem contada. Triste no que tem de real e trágico, medonhamente romântica, e muitíssimo bem contada. O museu que Belfast dedica ao magnífico e efémero navio é interessante, não sei se absolutamente imperdível, mas impressiona ler e ouvir testemunhos de sobreviventes e, sobretudo, perceber como pequenos erros e pequenas contrariedades concorreram para o desastre. Estava longe de imaginar que, daí a poucos dias, choraríamos os mortos do icónico e nosso elevador da Glória, mas lembro-me de pensar em desgraça no regresso, durante a aterragem desajeitada no aeroporto de Lisboa, a cidade tão perto que parece possível tocar.

A estátua de James Joyce é em Dublin, não em Belfast, Irlandas diferentes, eu sei, mas vou deixar aqui. Também por coincidência, a primeira “notícia” que me apareceu nada mais desligar o modo de avião foi a crónica de Miguel Esteves Cardoso sobre como ler Ulisses: ando a fazê-lo há um ano, há momentos em que me aborreço de morte e outros em que pasmo de admiração – como é que se consegue aquilo?