sábado, 6 de fevereiro de 2021

Andei a vasculhar gavetas antigas. Uma necessidade súbita de saber que partes de mim permanecem intactas. 

Dois mil e dezanove não estaria muito longe, não fossem dois mil e vinte e o pandemónio da pandemia. Perceber que reescreveria exactamente assim algumas coisas (como aquelas, mas não só) é, de alguma forma, apaziguador. 

Por outro lado, tenho percebido que a minha mente – seja lá qual for essa parte de mim, ameaçada ou não – tem-se entretido a pregar-me pequenas partidas. Por exemplo: por mais de uma vez desde a entrada, com o estrondo que se sabe, do tão desejado (não era?) ano novo, li e escrevi “2012”, em vez de “2021”. Não sei se é a minha ligeira dislexia a provocar-me os sentidos (desatentos, por sinal), ou se estou naquele estado a que os psicólogos chamam de negação. Seja como for, sobreviverei.

Entretanto, avariou-se a minha máquina fotográfica. Não é bem uma avaria. Uma sujidade, talvez, um risco, qualquer coisa que não consigo eliminar e que me vai deixando uma pequena mancha circular quase a meio de todas as fotografias, em que só se repara nas de tons mais claros. 

Tenho fotografado com a câmara do telemóvel novo. Não é a mesma coisa, mas não desgosto. O Google Photos vai fazendo uma selecção das que considera melhores, melhora-as mais ainda, anima-as se for caso disso, constrói-me imagens panorâmicas com as sequências que lhe vou oferecendo mais despreocupadamente do que devia, e, a seguir, devolve-mas sem carinho, mas de forma bastante competente. E, apesar de saber da minha parte de culpa nesse consentimento que me mantém localizada e vigiada, não deixo de me espantar.