Não sei nada desses Deuses que caminham contigo e te resgatam. Do vento
gelado do Norte esculpindo montanhas brancas, recortadas, como catedrais
eternamente inacabadas, como eu as imagino. Mas sei da urgência da saudade. Sei
do silêncio imaculado que antecede a alvorada, mesmo a que se faz de luz quieta.
Do que tem de sagrado. Sei do gemer da Terra. Do assombro, do espanto; da inquietação furiosa dos sentidos. Sei do manto
negro e denso do crepúsculo, do Sol dourado de Outono e do aroma intenso do
café amargo, acabado de fazer.
Sei das muralhas que construímos e onde nos trancamos, julgando-nos a
salvo. Sei que podemos não dar pela primeira brecha, para, depois, rasgá-la
pelo próprio punho. Conscientemente.
Sei de caminhos cruzados e de encontros improváveis. De canções de embalar e de preces ancestrais. Sei de anjos e demónios, e de um certo desassossego que me era estranho não há muito tempo e a que me entreguei, como uma suavíssima embriaguez.
Sei do acaso e da cumplicidade. Do privilégio de te ter encontrado.