domingo, 29 de agosto de 2021

"O inglês de Boobee era tremendo. «Posso ir a si para ficarmos juntos?», perguntava a uma senhora, pretendendo simplesmente sentar-se ao lado dela.”


Estive cinco minutos a rir-me com aquilo, e outros cinco mais quando o amigo que me mostrou John Cheever – e me emprestou o segundo volume dos seus contos – me perguntou de que me ria tão desassombradamente e reli a passagem, desta vez, em volta alta: é ainda mais hilariante em voz alta. Ou isso, ou o confinamento prolongado de que me vou libertando aos poucos afectou-me mais do que supunha.

O pretexto para a leitura era um conto de John Cheever em particular, O Nadador: “Era um daqueles domingos de Verão em que toda a gente fica sentada a dizer: «Ontem à noite bebi demais.», e daí para uma singular e desarmante alegoria do fracasso. Em doze páginas, na edição que li. 

O melhor de tudo é que O Nadador nem é o conto de que mais gostei. São dois volumes de puro prazer. Há lá de tudo: desejo, traição, tragédia, humor, argúcia, loucura, crítica implacável... Como é que demorei tantos anos a descobrir isto? Ou a minha memória apagou algum primeiro encontro?