quinta-feira, 30 de setembro de 2021

João Rendeiro, o mártir

Não é verdade que em Portugal haja uma justiça para ricos e outra para pobres, que disparate. Em Portugal só há justiça para pobres. Ponto. Os ricos – ou os bem-relacionados, ainda que não muito ricos, não sei se são estatutos indiferenciáveis por cá – valem-se dos bons advogados, daqueles que dão bons analistas e comentadores em horário nobre, cheios de retórica e presunções de, que tratam o poder por tu e por ele e que fazem da justiça uma prostituta ao serviço dos interesses que melhor lhes servem os vícios, os próprios e os dos respeitáveis clientes. A morosidade da justiça é um expediente cozinhado nos melhores escritórios, para garantir a impunidade dos que a podem pagar. O país é pequeno e há que fazer pela vida, principalmente, se a vida for boa e os portugueses de bem. João Rendeiro é um desses portugueses de bem. A sua fuga nas nossas barbas (como a de outros) dará um belíssimo sketch no próximo programa do Ricardo Araújo Pereira, e é só. O povo ri e esquece, porque tem contas para pagar e não há legítima defesa que possa ser invocada contra o ultraje.