Nos últimos dois meses caí duas vezes. Dá uma boa média.
Melhor do que os meus níveis de ferro, da última vez que vi. A médica
ordenou-me uma série de coisas, sob ameaças várias, e não sei se ando a
cumprir. E a minha tensão anda em mínimos históricos, mesmo para mim. O calor
de Verão é a minha ruína. Menos mal que acabou Agosto, Setembro vai em mais de
meio e já há folhas secas no chão. Ouço-as crepitar à minha passagem. O Outono
anuncia-se-me em sussurros respingados, como um vestido de folhos. Evito
pisá-las. As folhas crocantes, de ouro velho e baço.
Das duas vezes, veio alguém em meu auxílio. Muito aflito, o segundo homem. Via-me e, de repente, deixou de me ver, e achou que eu tinha desmaiado. Não interessa nada. Não me magoei demasiado. Uns arranhões à superfície da pele, outros no meu mais profundo orgulho. O importante é que, por duas vezes e sem temor, um desconhecido me estendeu a mão. Nua e não sei se devidamente, institucionalmente, higienizada. E eu aceitei. O medo ainda não nos despiu totalmente de humanidade, afinal. Não a todos.