“Os
romancistas dizem geralmente que as personagens ganham vida própria, que um
escritor segue a sua personagem, tanto quanto a determina. Quem vive connosco
são as nossas personagens, não porque as tenhamos inventado, mas porque povoam
a nossa memória e imaginação, e além de mais representam épocas, lugares,
abatimentos, alegrias. De algumas dessas pessoas podemos falar durante horas,
de outras pouco mais temos que um episódio meio esquecido, mas nunca esquecido
por completo. São as nossas “dramatis personae”. E mesmo que não se vejam agora
no palco, aparecem em flashes, em sonhos, nas desaconselháveis mas
surpreendentes horas em que passamos a vida em revista. Estamos ligados a eles
e elas por pequenas cumplicidades de que não ficou registo, casos passageiros,
coisas de nada. Ninguém mais sabe, mas vivem connosco.”
E eu a pensar que o Pedro Mexia só percebia de livros e, nas horas livres, ensaiava uns passos em análise política. Afinal, percebe é de gente, o que, na verdade, não devia espantar porque, nos livros como na política, é de gente que se trata. Dos “dramatis personae” aos "amigos-fantasma".